Em 2018, foram acrescidas 30 mil instalações nas próprias unidades consumidoras do sistema elétrico brasileiro, e em 2019 esse número chegou a 95,3 mil. Com esses novos equipamentos, hoje no país funcionam 145,3 mil estruturas que produzem a própria energia por meio da GD (geração distribuída) fotovoltaica. Os dados são da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica)
O número é referente apenas à produção local de energia solar (quando a geração é próxima ao lugar de consumo). Ao analisar toda a GD, incluindo a produção compartilhada e remota, o total de instalações feitas só no ano passado chega a 113,2 mil. Se somar tudo que há em funcionamento no país de energia solar pela geração distribuída, independente do ano de instalação, chega-se ao total de 171 mil sistemas.
Para Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), o aumento de informações sobre o assunto, o preço mais baixo e o peso da conta de luz impulsionaram esse avanço.
“Reajustes pesados que fazem com que a conta de luz fique cada vez mais cara, a tecnologia se tornando mais acessível e o consumidor tendo mais familiaridade com o que é a energia solar fotovoltaica têm ajudado as pessoas a decidirem por adotar [esse tipo de sistema]”, disse.
Apesar do crescimento no ano passado, ele afirmou que o número ainda é muito pequeno, indicando a incipiência do país em relação à geração de energia solar.
“Hoje todo o mercado tem 84,8 milhões de unidades consumidoras. Esse é o nosso potencial, número máximo de unidades que poderiam gerar sua própria energia. Então 171 mil é 0,2% disso, o que quer dizer que a ainda nem começamos”, disse.
Sauaia compara o peso da produção de energia fotovoltaica brasileira a de outros países quando apresenta esse número. Segundo ele, enquanto o Brasil tem aproximadamente 2,4 GW de capacidade instalada (somando geração nas casas, fazendas e também grandes usinas solares), países menos populosos e menores, como Japão e Alemanha, têm algo em torno de 56 GW e 45 GW, respectivamente.
Dados do instituto Fraunhofer ISE mostram que hoje, na Alemanha, há 1,7 milhões de estruturas de geração fotovoltaica instaladas por lá. Dessas, 1 milhão são referentes a pequenos arranjos solares feitos em residências.
“Mesmo que tenhamos avançado, se nos compararmos a esses outros países, o Brasil está uma década atrasado”, afirmou o chefe da Absolar.
Por ainda ter um grande potencial de crescimento, Sauaia defende postergar mudanças nos incentivos dados a quem produz eletricidade por meio da luz solar no país. Para ele, a proposta da Aneel em alterar as regras das tarifas pode inviabilizar a expansão do segmento.
O diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, diz enxergar de outro modo. Para ele, “manter esse subsídio é que não faz sentido”. Na sua avaliação, o Brasil, além de já contar com uma forte presença de fontes renováveis em sua matriz elétrica, não pode ser comparado com países de renda elevada.
Ainda de acordo com dados do Fraunhofer ISE, hoje 47,3% da matriz elétrica da Alemanha é composta por energia renovável. No Brasil, dados do governo apontam para algo em torno de 83%.
Para além da discussão de tarifas, há a preocupação com os impactos que o crescimento da energia solar fotovoltaica pode trazer à matriz elétrica devido a sua geração variável.
Mesmo reconhecendo a importância do incentivo a uma energia limpa como a solar, Rodolfo Gomes, pesquisador do IEI Brasil (International Energy Initiative), disse que é preciso reconhecer suas limitações.
Ele lembra que esse tipo de geração é intermitente, uma vez que há produção durante o dia, quando há luz do sol, mas que é interrompida à noite. Na sua avaliação, isso pode trazer impactos ao sistema elétrico brasileiro.