Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, afirmou à reportagem que os Batista romperam um “pacto informal” para a saída de Wesley Batista da presidência da JBS. “Não cumpriram e, por isso, a empresa está acéfala agora”, disse. O banco é sócio da JBS com 21% de participação.
Ele conta que assim que assumiu o cargo em junho acertou com Tarek Farahat, presidente do conselho de administração, que os bancos públicos apoiariam a renegociação da dívida e a JBS contrataria uma consultoria para encontrar um novo CEO. Segundo ele, o setor público fez sua parte, mas a família, não.
Rabello de Castro também revelou que o BNDES vem conversando com a AGU (Advocacia Geral da União) e com a Justiça para explicar que o fim do acordo de colaboração premiada de Joesley Batista não deve afetar a companhia.
“A punição exemplar aos CPFs não pode se confundir com os CNPJs. A posição conhecida dos Batista é 41%. Se agiam como donos antes, passaram a conhecer sua verdadeira condição de sócios”.
Leia a entrevista de Rabello de Castro.
1. A advogada Claudia Santos, representante do BNDES no conselho da JBS, defendeu nesta quarta-feira (13) que a empresa indique um presidente interino para substituir Wesley Batista. Por quê?
Por um motivo muito simples: a empresa neste momento funciona acéfala. Uma empresa de qualquer porte — não precisa ser imensa como a JBS — tem que ter linha sucessória. Até na padaria do seu Manoel tem que existir um plano de sucessão.
Nós temos na JBS executivos de nível internacional, que nas suas origens foram importantes CEOs.
2. O que foi acordado entre o senhor e o presidente do conselho da JBS, Tarek Farahat?
Logo depois de manifestar minha solidariedade aos funcionários, minha primeira medida assim que assumi o BNDES foi chamar o presidente do conselho da JBS. Naquele momento, ainda não parecia que havia uma crise de governança na empresa. Mas a família Batista tinha instalado uma crise de confiança na República.
De um lado, eles teriam um tempo, embora curto, para renegociar a dívida com os bancos. Mais ou menos um mês depois dos nossos primeiros encontros, a empresa fechou um acordo muito favorável para o seu equilíbrio com os bancos.
Eu trabalhei em completa sintonia com o Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, que sentava como credor, e com o Gilberto Occhi, presidente da Caixa Econômica Federal. BNDES e Caixa são sócios da JBS, enquanto o BB é credor. Ou seja, o setor público agiu de maneira estritamente republicana num ambiente que poderia se supor uma “vendeta”.
3. Assessores da JBS dizem que o BNDES vem sendo um instrumento de vingança do governo Temer contra os Batista, por causa das acusações feitas por Joesley Batista.
É exatamente o contrário. Veja bem: não é o governo que quer uma vendeta, é a República que quer se vender vindicada. Eu paguei um preço alto por fazer uma defesa da boa conduta negocial histórica do grupo. Segurei a barra dizendo que essa é uma empresa dos brasileiros, de todos nós, inclusive os Batista. Eles até quiseram levar a JBS para fora do país, mas a Maria Silvia não deixou.
4. E qual foi o compromisso assumido pelos Batista nesse pacto informal?
Na reunião do conselho de junho, os conselheiros do BNDES introduziram a questão da governança da JBS. É só pedir a ata.
5. E isso foi feito?
Zero. E é por isso que a empresa está acéfala hoje. Não tinha que ter uma reunião de emergência.
6. Foi por isso que o senhor pediu à assembleia de acionistas para que a empresa apure possíveis prejuízos provocados pelos administradores?
Não. Na mesma reunião de junho em que conversamos sobre a absoluta necessidade de aperfeiçoar a governança da JBS, tomamos a medida de requerer a assembleia geral extraordinária.
7. Quando a JBS concordou em marcar a assembleia?
Depois do acordo com os credores no final de julho eles vieram discutir os termos da convocação da assembleia. E me deram trabalho, porque não queriam dizer o que tinha que ser dito, que era o pedido de apuração de eventuais prejuízos provocados pelos administradores.
8. Por que o BNDES decidiu trocar seus conselheiros na JBS? O senhor já tem os novos nomes?
Claudia Santos e Maurício Luchetti são extraordinários. O Maurício pediu para sair, porque cumpriu seu ciclo [ele renunciou na semana passada]. Vamos aproveitar a Claudia em outros conselhos importantes. E vamos colocar novos nomes com força total.
Já temos os novos nomes, mas ainda está pendente de aprovação final porque o processo seletivo do BNDES é muito rigoroso. Um deles chegou a ser especulado como presidente, é o Cledorvino Belini (ex-Fiat).
9. Na reunião, a conselheira do BNDES sugeriu o nome de Gilberto Tomazoni como presidente interino. O banco mantém essa posição?
Ela teve uma rápida conversa comigo. Eu não o conheço pessoalmente. (Folhapress)
