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A Operação Lava-Jato informou que doleiros usaram ao menos três bancos privados e um banco federal para lavar 1 bilhão de reais

De acordo com o Ministério Público do Rio, os doleiros conseguiram abrir contas em nome de pelo menos sete empresas de fachada em quatro dos principais bancos do País. (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

O grupo de doleiros que colaborou com o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e a construtora Odebrecht para pagamento de propinas usou contas correntes abertas nos bancos Bradesco, Itaú, Santander e Caixa Econômica Federal para lavar dinheiro.

A constatação é resultado de investigações da força-tarefa da Operação Lava-Jato no MPF-RJ (Ministério Público Federal do Rio de Janeiro), que vê falhas das instituições financeiras em controlar crimes praticados com ajuda de seus serviços.

De acordo com o MPF-RJ, os doleiros conseguiram abrir contas em nome de pelo menos sete empresas de fachada em quatro dos principais bancos do País. Para isso, contaram com a falha ou colaboração de funcionários, os quais não checaram os dados cadastrais das companhias falsas ou mesmo receberam propinas em troca das facilidades vendidas à organização criminosa.

Essas contas bancárias eram usadas por doleiros como entreposto para o dinheiro que circulava nos esquemas de pagamento de propinas dos quais eles participavam. Uma conta em nome de uma companhia de fachada poderia receber depósitos sem que o real dono do saldo fosse identificado, por exemplo. Os valores depositados ali também poderiam ser usados para pagamentos em que o destino do dinheiro nunca era revelado.

Ao todo, segundo investigação da Lava-Jato no Rio, ao menos 15 contas correntes foram operadas pelo grupo de doleiros, que já foi alvo de fases anteriores da Lava-Jato como a operação “Câmbio, Desligo”. Ao todo, essas contas movimentaram mais de R$ 1,1 bilhão. Desse total, R$ 989 milhões – cerca de 90% do total – circularam pelo Bradesco.

Na terça-feira (28), dois gerentes do banco foram alvo de mandados de prisão temporária. Tânia Maria Aragão de Souza Fonseca, que já chefiou uma agência do Bradesco na Barra da Tijuca, e Robson Luiz Cunha Silva, que foi gerente-geral da agência do banco em Vila Isabel, são suspeitos de receber uma mesada de doleiros para ajudá-los na abertura de contas no banco.

Controle

Para o coordenador da Lava-Jato no Rio de Janeiro, o procurador da República Eduardo El Hage, a quantidade de contas abertas e principalmente a movimentação delas mostra que o sistema de controle de crimes adotado por bancos não funcionou. Segundo ele, regras internacionais e leis brasileiras de combate à lavagem de dinheiro determinam que instituições bancárias conheçam seus clientes, saibam da fonte dos seus recursos e monitorem transações suspeitas. Isso, disse ele, não ocorreu. “Os bancos têm que fazer diligências para verificar dados cadastrais de clientes”, explicou.

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