As polícias Civil e Militar do Amazonas cumpriram nesta terça-feira (2) 35 mandados de prisão temporária contra uma organização criminosa acusada de extrair ilegalmente 9 mil árvores centenárias em regiões de mata nativa.
A operação ocorre enquanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é pressionado após a revelação de sua frase durante reunião ministerial, quando sugeriu que o governo “passasse a boiada”, referência à publicação de normas ambientais, enquanto a imprensa estivesse distraída com a pandemia do coronavírus.
A operação, batizada de “Flora Amazônica”, foi realizada nas cidades de Manaus e Manacapuru, nas proximidades da capital amazonense. As investigações foram feitas pelo Departamento de Repressão ao Crime Organizado da Polícia Civil e ocorre há quatro meses. O Ibama e a Delegacia do Meio Ambiente também participam da operação.
De acordo com a Polícia Civil, em dez meses, os acusados teriam extraído algo em torno de 9 mil árvores centenárias, como Castanheira, Cupiuba, Seringueira, Angelim, Sumaúma, Cedro e Muriatingas, extraídas e comercializadas em Manaus e Manacapuru.
A organização criminosa, segundo as investigações, era formada por empresários do ramo de móveis, serralheiros, extratores ilegais, motoristas e agentes públicos, que recebiam propina para liberar as cargas ilegais. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o esquema envolveria 12 serralherias, que misturavam a madeira ilegal com peças devidamente regularizadas para burlar a fiscalização. A liderança do esquema era exercida por um núcleo de empresários que fomentava a prática dos crimes e planejava represálias a delegados.
Desmatamento
A crise de Covid-19 e as medidas restritivas que vieram em seguida não frearam o desmatamento florestal na Amazônia. Pelo contrário. É o que indicam os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
De acordo com o relatório de abril, foram 529 quilômetros quadrados de área devastada na região. Um recorde para o mês desde 2008, ano em que o levantamento passou a ser realizado.
A área desmatada é superior à de cidades como Porto Alegre (496,8 km²) e Maceió (509 km²) e equivale a mais que o dobro de Recife (218 km²). Em relação a abril de 2019, quando 195 km² foram desmatados em toda a Amazônia Legal, o aumento foi de 171%.
O acumulado desde janeiro é de 1.073 km², quase igual à área da cidade do Rio de Janeiro (1.255 km²). Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 460 km² de desmatamento, o aumento foi de 133%.
Em março, o aumento já havia sido significativo: foram 254 km² de floresta derrubada, o que representou um aumento de 279% em relação ao mesmo período do ano anterior. Segundo o Imazon, o Estado do Amazonas foi responsável pela maior parte do território desmatado.
Em abril, no entanto, Pará, com 32% das florestas derrubadas, Mato Grosso (26%) e Rondônia (19%) lideraram o ranking do desmatamento. O Amazonas veio em seguida, sendo responsável por 18% das áreas atingidas.
De acordo com o Imazon, a maior parte do território desmatado (60%) está em áreas privadas ou sob algum tipo de posse. Unidades de conservação (22%), assentamentos (15%) e terras indígenas (3%) completam a lista.
No recorte anual também houve aumento. De abril de 2019 a abril de 2020, uma área de 3.918 km² foi desmatada. É como se uma floresta com 2,5 vezes o tamanho da cidade de São Paulo tivesse sido posta abaixo. Em relação aos 12 meses anteriores (2.169 km²), o aumento foi de 81%.
