O dono do apartamento vizinho ao de Lula, o empresário e engenheiro Glaucos da Costamarques, não tinha renda para comprar um terreno que seria destinado ao Instituto Lula nem o imóvel ao lado ao do ex-presidente. Há também fortes indícios de que ele seja um laranja, tudo segundo análise feita pela Receita Federal.
Costamarques comprou o apartamento e os direitos do terreno em 2010. Pagou 504 mil reais pela cobertura vizinha à de Lula e 6,6 milhões de reais pelo terreno. Nesse ano ele registrou um prejuízo de 3,8 mil em atividades rurais, e seus rendimentos foram de 57,2 mil reais (média mensal de 4,8 mil reais ), segundo a análise fiscal.
“Há razoável suspeita de que em alguns anos (especialmente 2010, 2011 e 2013), além da possibilidade de sonegação de receitas, as contas bancárias de Glaucos da Costamarques podem ter sido utilizadas apenas como interposição para passagem de expressivos valores de terceiros”, diz o texto da Receita.
A análise fiscal faz parte da ação penal em que Lula e Costamarques são réus. A suspeita em torno do ex-presidente é que ele tenha se beneficiado do apartamento sem pagar aluguel —o que Lula nega enfaticamente. O instituto preferiu outra área para abrigar a sua sede.
Já o empresário é acusado de ter ajudado Roberto Teixeira, advogado e amigo de Lula, a comprar os imóveis com recursos da Odebrecht, desviados da Petrobras, o que a defesa de Lula nega.
A análise da Receita Federal derruba a definição de Teixeira sobre o empresário. Em depoimento ao juiz Sergio Moro, o advogado pintou Costamarques como homem de sucesso: “Ele era um investidor, um pecuarista, um fazendeiro, uma pessoa de grandes posses e estava em São Paulo, e entre as atividades que buscava, era investimento imobiliário”.
O juiz Sergio Moro ironizou em audiência no início deste mês com o empresário o valor da comissão de 800 mil reais que ele recebeu da DAG por ter supostamente adquirido os direitos sobre o terreno. No interrogatório, o engenheiro afirmou que quem providenciou toda a sua participação na compra do terreno foi Teixeira, o advogado de Lula. “O senhor não acha que recebeu 800 mil reais sem ter feito nada?”, disse Moro. E acrescentou: “Eu queria arrumar um advogado desses para mim”, referindo-se a Teixeira.
O escritório de Teixeira, que teria feito todo o trabalho para a aquisição do terreno, ganhou da DAG um valor muito menor do que o pago a Costamarques: 234 mil reais. O empresário contou ao juiz Moro que Teixeira lhe pediu que os 800 mil reais que recebera fossem devolvidos em dinheiro vivo. Ele conta ter devolvido 650 mil reais, retirados por um carro blindado. Teixeira nega que tenha feito esse pedido.
A análise da Receita Federal apresenta outros indícios de que Costamarques seria laranja de alguém. Segundo a Receita, o empresário recebeu 425 mil reais em 20 de julho de 2010 em sua conta no Banco do Brasil. Questionado pelo empresário sobre a origem desse depósito, o BB respondeu que “não foi possível verificar o remetente do crédito”.
O outro lado
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirma que o empresário não é laranja: “Glaucos da Costamarques é o proprietário do apartamento locado à dona Marisa. Há provas de que ele comprou o imóvel com recursos próprios, por meio de três cheques administrativos emitidos de sua conta bancária”.
O advogado de Costamarques, João Mestieri, não foi localizado.
Teixeira diz em nota que sua “atuação foi exclusivamente como advogado, na análise jurídica e elaboração de contratos e demais instrumentos necessários para a compra do imóvel”.
