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A recente melhora nas expectativas de inflação e os sinais de desaceleração da atividade econômica não devem ser suficientes para que o Banco Central diminua a taxa Selic nesta quarta

A expectativa é que a taxa Selic será mantida no patamar atual, de 15% ao ano. (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

A recente melhora nas expectativas de inflação e os sinais incipientes de desaceleração da atividade econômica não devem ser suficientes para que o Banco Central (BC) altere sua comunicação conservadora e abra as portas para o início de um ciclo de cortes de juros neste momento. A expectativa unânime dos agentes é que a taxa Selic será mantida no patamar atual, de 15% ao ano, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira (5).

As projeções do mercado apontam para o começo do afrouxamento monetário apenas no mês de janeiro, mas as apostas de que a queda da taxa básica pode começar ainda mais tarde em 2026 ganharam força desde a última reunião.

De acordo com pesquisa elaborada pelo jornal Valor Econômico com 120 instituições financeiras, não há expectativa de que a Selic seja alterada na reunião desta semana. E, diante da retórica dura apresentada pelos integrantes do Copom desde a última decisão, as apostas para os cortes de juros ainda em 2025 também minguaram.

Na última pesquisa, realizada em setembro, aproximadamente 30% dos participantes viam o início do afrouxamento ainda neste ano, contra menos de 10% que ainda sustentam esse cenário atualmente.

Ainda, o número de participantes da pesquisa que postergaram a expectativa para o começo do relaxamento monetário cresceu. Em setembro, 26% das casas esperavam que os cortes tivessem início em março ou depois, percentual que aumentou para 40% na atual edição da pesquisa.

Em grande medida, o ajuste nas expectativas para o início dos cortes de juros foi conduzido pela comunicação mais conservadora do BC, o que os agentes não esperam que mude neste momento.

Entre as reuniões, as expectativas de inflação, inclusive em horizontes mais longos, como 2027 e 2028, apresentaram melhora, houve sinais adicionais de arrefecimento na atividade econômica, a despeito de uma surpresa nos dados de mercado de trabalho mais recentes do Caged, e os dados de inflação corrente também exibiram alívio.

“As variáveis estão indo na direção que o Banco Central gostaria. Temos uma melhora na dinâmica da inflação e, ao mesmo tempo, sinais de desaceleração da atividade e do mercado de trabalho. Isso dito, a inflação dá sinais de queda mas ainda está muito alta, as expectativas em todo o horizonte estão bem acima da meta e a atividade permanece bastante aquecida. Tudo vai na direção esperada, mas as condições para o corte não estão dadas”, afirma o economista-chefe da Apex Capital, Alexandre Bassoli.

Assim, na sua visão, o Copom deveria manter as mensagens centrais da comunicação que vem adotando mais recentemente. “Seguir enfatizando que as expectativas estão altas, que o mercado de trabalho continua muito aquecido e que a projeção no horizonte relevante deve permanecer acima da meta. Eu também esperaria que o Copom mantivesse a menção ao período bastante prolongado no comunicado”, afirma Bassoli, para quem o colegiado pode, no entanto, reconhecer sinais de melhora na dinâmica inflacionária, da desaceleração da atividade e do mercado de trabalho.

A projeção da Apex é que os cortes comecem em janeiro e o BC entregue um ciclo relativamente modesto, de 2,5 pontos percentuais.

Para Bassoli, ainda que as expectativas de inflação não devam retornar ao centro da meta pelas incertezas acerca da sustentabilidade da dívida, a manutenção de um juro nominal muito elevado com uma inflação cadente levaria a um juro real ainda mais alto na economia.

“Se o BC mantiver a Selic constante, o juro real vai ficando cada vez mais alto e, por isso, ele tende a fazer um ajuste. Um ciclo que deve ser, historicamente, muito modesto em 2026”, afirma Bassoli.

Para o economista-chefe do Bahia Asset, Luiz Maciel, o BC deve persistir na estratégia de comunicação, à medida que vem colhendo alguns frutos positivos mais recentemente.

“Tendo uma postura dura, o BC conseguiu um cenário onde a inflação parece dar sinais de melhora e em que as expectativas, ainda desancoradas, também estão melhorando. O BC está conseguindo colher um pouco de êxito ao manter a postura restritiva. A estratégia ótima deveria ser manter o grau de restrição também no discurso, embora haja uma vertente no mercado acreditando que o BC poderia começar a flexibilizar o ‘bastante prolongado’. Acho que o BC deveria mudar o mínimo possível na comunicação”, afirma Maciel. As informações são do jornal Valor Econômico.

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