O ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) confirmou que o presidente Jair Bolsonaro pretende demiti-lo nesta segunda-feira (18). “A tendência é essa, exoneração”, disse a jornalistas. “Eu quero ver o papel com a exoneração, a hora em que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado”, afirmou. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.
Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que o jornal revelou a existência de um esquema candidaturas laranjas do PSL, presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018.
O ministro confirmou ainda que recusou uma oferta de assumir uma diretoria em Itaipu em troca de deixar o Palácio do Planalto. “Não foi esse meu emprego, meu projeto era eleger a pessoa que me inspirava confiança e eu achava que ia mudar os rumos do Brasil para melhor”. afirmou.
Ele negou ter tido uma conversa ríspida com o presidente Bolsonaro na sexta-feira (15) e ter vazado áudios de conversas privadas com o presidente. ”Não vazei nada, nunca fiz isso”, disse.
Bebianno criticou a publicação, que publicou uma série de reportagens revelando um esquema de candidaturas laranjas do PSL com uso de recursos públicos eleitorais. Ata de reunião do partido delegou a Bebianno a responsabilidade pelos repasses dessa verba a esses candidatos.
“Se for provado algo contrário a responsabilidade não é minha, não é da nacional, isso não existe. Simplesmente a Folha de S.Paulo tenta forçar, induzir essa coisa, mas não é verdade. Simplesmente a Folha de S.Paulo consegue atingir a honra de uma pessoa de bem porque, porque na política a gente sabe como as coisas funcionaram ate aqui. Então a política é muito mal vista”, disse Bebianno.
“A minha consciência está absolutamente tranquila e limpa, a Folha de S.Paulo publicou tentando me vincular, não tem nada a ver comigo, isso é a lei, o estatuto do partido, é o bom senso”, ressaltou.
Sem citar Bolsonaro, Bebianno publicou na madrugada mensagem em rede social dizendo que “a lealdade é um gesto bonito das boas amizades”.
“Uma pessoa leal sempre será leal. Já o desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”, diz trecho da íntegra da mensagem, atribuída por ele ao escritor brasileiro Edgard Abbehusen.
A postagem ocorreu após a divulgação de que o presidente decidiu demitir o ministro.
Na sexta, Bolsonaro teria avisado Bebianno e outros ministros que a exoneração será publicada na segunda-feira (18).
Na manhã deste sábado (16), o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) esteve no Palácio do Alvorada para discutir o assunto com o presidente.
“Continuamos conversando, presidente está refletindo e segunda-feira devemos ter solução”, disse o ministro.
Bebbianno disse que não mudou seu pensamento sobre Bolsonaro. “Continuo tendo o mesmo carinho pelo presidente. Não mudou nada para mim em termos, eu continuo gostando dele da mesma maneira, trabalhei dois anos para eleger, fiz o que pude, fiz além do que qualquer ser humano normal faria. É um direito que ele tem exonerar quem ele quiser, é um governo dele”, afirmou.
Segundo ele, Bolsonaro “precisa de um tempo para ele depurar na cabeça dele e ele colocar na balança o que ele quer fazer, só isso”. “Ele é um ser humano como outro qualquer”, disse.
Onyx Lorenzoni liderou o movimento de ministros que chegou a garantir a permanência de Bebianno. No fim da tarde, porém, o clima azedou de vez após uma reunião entre Bolsonaro.
Em seguida, o programa SBT Brasil, a quem Bolsonaro deu recentes entrevistas exclusivas, anunciou que o presidente decidira pela exoneração do auxiliar.
Bebianno passa o fim de semana no hotel onde mora em Brasília.
A temperatura da crise subiu na quarta-feira (13), quando Carlos, o filho que cuida da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política causada pelas denúncias das candidaturas laranjas.
Mais tarde, no mesmo dia, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno.
Bolsonaro endossou a atitude do filho publicamente, repostando a acusação de Carlos e dizendo em entrevista à TV Record que não havia conversado com o ministro.
Na mesma entrevista à Record, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse envolvido, “o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, ou seja, deixar o governo.
A gota-d’água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.
