A entrega do primeiro carregamento da CoronaVac na Turquia foi adiada em “1 ou 2 dias” devido a um caso de coronavírus na alfândega de Pequim, disse o ministro da Saúde turco, Fahrettin Koca, neste domingo (27).
A Turquia concordou em comprar 50 milhões de doses da CoronaVac, da Sinovac, e esperava a primeira entrega de 3 milhões de doses nesta segunda-feira. Também serão adquiridas 4,5 milhões de doses da vacina desenvolvida pela BioNTech e pela Pifzer, com opção de obter mais 30 milhões de doses posteriormente.
“Devido a um alerta de covid-19 em Pequim e um caso de covid-19 na alfândega de Pequim, a mobilidade naquela seção foi temporariamente suspensa. Por esse motivo, a chegada de nossas vacinas, que deveriam partir após as operações alfandegárias, será atrasada em um ou dois dias “, disse Koca no Twitter.
A Turquia divulgou na útima quinta-feira (24) que a vacina CoronaVac teve eficácia de 91,25% contra o novo coronavírus em uma análise preliminar dos resultados. Entretanto, além do anúncio, o estudo completo não foi apresentado.
A CoronaVac é desenvolvida pela chinesa Sinovac, que tem acordo com o governo de São Paulo. O Instituto Butantan coordena os testes no Brasil e já trabalha na produção do imunizante a partir de matéria prima recebida da China. Em nota divulgada após o anúncio da Turquia, o Butantan disse “que não comenta informações relativas a contratos da Sinovac com outros países”.
Eleições
A Turquia tem se destacado por sua onipresença em diferentes frentes do tabuleiro geopolítico internacional, fonte de atritos com inúmeros países, em uma ofensiva autoproclamada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. Suas ambições além-fronteiras — refletidas em ações políticas e militares na Síria, na Líbia, no Mediterrâneo Oriental ou no Sul do Cáucaso, e também por um discurso islamista com pretensões de liderança no mundo muçulmano — ganharam a definição de “neo-otomanismo”, como um novo viés expansionista inspirado no período áureo do Império Otomano.
Especialistas, no entanto, não veem planificação de maior influência global e de grandeza territorial nos anseios de Erdogan, mas uma estratégia voltada para o público interno. Com a base eleitoral enfraquecida em meio a uma Turquia em sérias dificuldades econômicas, o presidente estaria, sobretudo, usando sua agressiva política externa para reforçar sua imagem doméstica e buscar a reeleição em 2023.
Há quase 18 anos no poder, na soma de seu mandato de premier (2003-2014) com o de presidente (desde 2014), Erdogan, cofundador do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), dirige hoje um país mergulhado em grave crise econômica, com crescentes índices de desemprego e de inflação e uma forte desvalorização da moeda.
Para governar, costurou aliança com o Partido do Movimento Nacionalista (MHP), de extrema direita, e não tem poupado esforços para criminalizar a oposição, em uma política repressiva de prisões arbitrárias, de controle da mídia e vigilância das redes sociais. Nas eleições municipais do ano passado, o AKP sofreu um importante revés ao perder as prefeituras de Istambul e Ancara, as duas cidades mais importantes do país.
Para Jean-François Pérouse, diretor do Instituto Francês de Estudos Anatolianos e coautor da biografia “Erdogan, novo pai da Turquia?”, o neo-otomanismo do presidente é “uma forma de mascarar os problemas internos”, recorrendo a “recursos simbólicos” para ficar no poder.
