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Acordo entre Mercosul e União Europeia beneficia produtos do agronegócio, mas para a indústria brasileira há incertezas

Produtos de grande interesse do Brasil, como suco de laranja, terão alíquotas reduzidas. (Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil)

Representantes de diferentes setores exportadores brasileiros comemoraram o anúncio do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, classificando a redução das tarifas de exportação a zero, em dez anos, como histórica. Se produtos do agronegócio serão amplamente beneficiados, especialistas alertam que para a indústria brasileira o acordo pode trazer incerteza, já que empresas brasileiras passarão a ter concorrência de companhias de ponta europeias, especialmente alemãs. As informações são do jornal O Globo.

“A expectativa é que, com tarifas mais baixas e simplificação portuária, a indústria local importe insumos mais baratos e ganhe produtividade. Mas elas estarão expostas a empresas de ponta do continente europeu”, analisa André Perfeito, economista-chefe da Necton.

A CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos) observa que as alíquotas de produtos de grande interesse do Brasil como suco de laranja, frutas e café solúvel variam de 12,2% a 15%. Essas alíquotas serão reduzidas entre 50%, imediatamente a partir da entrada em vigor do acordo, chegando a zero num período de sete a dez anos, nos principais produtos. A CitrusBR não estima em quanto as exportações desses produtos podem crescer, mas afirma, em nota, que essa redução abre espaço para que as empresas brasileiras “adotem diferentes estratégias levando em consideração a nova realidade tarifária”.

Para Perfeito, da Necton, outro efeito colateral do acordo, que pode trazer impactos de curto prazo na balança comercial brasileira, é que parceiros tradicionais, como a Argentina, poderão comprar itens diretamente na Europa, com preços mais vantajosos. O agronegócio fica blindado desse efeito de curto prazo, já que os produtos brasileiros têm vantagens competitivas, seja com financiamento público, tratamento tributário diferenciado e produção em larga escala.

“No longo prazo, o acordo é benéfico para a indústria já que vai forçar a buscar um novo ponto de equilíbrio, fazendo desaparecer setores ultrapassados com a perspectiva de que novas frentes de exportação sejam criadas”, diz Perfeito.

Custo Brasil

Nelson Carvalhaes, presidente do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) comemorou a inclusão do café no acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. De acordo com o executivo, ainda não há projeção de aumento das exportações por causa da medida, mas a expectativa é otimista porque a União Europeia é o segundo maior mercado consumidor do café brasileiro, atrás dos Estados Unidos. Entre os dez principais destinos de café brasileiro de janeiro a maio de 2019 estão quatro membros da UE: Alemanha, com 2,8 milhões de sacas importadas (16,7% do total); Itália, com 1,7 milhão de sacas (10,1%); Bélgica, com 935 mil sacas (5,5%) e França, com 375 mil sacas (2,2%).

“O europeu compra muito café. O acordo certamente fortalece os laços de comércio”, diz Carvalhaes.

Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o acordo entre Mercosul e UE “abre oportunidade histórica para o Brasil” uma vez que é o maior acordo comercial da história do Mercosul.”

O acordo cria um mercado de 730 milhões de consumidores, com um PIB agregado de US$ 21,2 trilhões. O tratado incentivará investimentos europeus no Brasil e acesso às inovações tecnológicas”, disse, em nota. A entidade aguarda ainda a divulgação dos detalhes finais do acordo.

“Acreditamos que o governo brasileiro tem, agora, uma obrigação ainda maior de reduzir o custo Brasil para que as empresas que produzem em nosso País tenham condições isonômicas de competir com as europeias”, afirma a nota da Fiesp.

Novos investimentos

No setor químico, a diretora de assuntos de comércio exterior da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Denise Mazzaro, observa que não existe mercado predatório no setor entre os dois blocos. São produtos de alta tecnologia e o setor vê novas possibilidades de investimento dos europeus no Brasil.

Atualmente, a União Europeia é o terceiro mercado comprador dos produtos químicos brasileiros.

Sem vantagens

Há quem não veja vantagem no acordo anunciado na sexta-feira. Para Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil , que representa a cadeia de produção da siderurgia, o acordo vem num momento de excedente de produção no mundo e de aumento do protecionismo em mercados importantes ao aço brasileiro, como Estados Unidos e China.

“Há 550 milhões de toneladas de excedente de aço no mundo. É 10 vezes a capacidade instalada do Brasil. Não há vantagem nesse tipo de acordo porque estamos abrindo uma condição para UE sem exigir nada em troca”, disse Mello Lopes.

Representantes de alguns setores, como o de máquinas e o de carnes, ainda estavam aguardando mais detalhes do acordo para se pronunciar.

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