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“Acusações contra a Lava-Jato são para tirar a atenção das pessoas”, diz ex-procurador italiano

“Estão criando um movimento de desinformação para tentar tirar a atenção das pessoas”, afirmou o italiano Antonio Di Pietro. (Foto: Reprodução/Youtube)

Enquanto atuava no julgamento da Operação Lava-Jato, o então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança, citava o exemplo da investigação italiana Mãos Limpas, da década de 1990. Para ele – e toda a força-tarefa da operação – a missão era não deixar que o exemplo italiano, onde o combate à corrupção não se replicou no cenário político, se repetisse no Brasil.

Uma das inspirações de Moro era o magistrado do Ministério Público (equivalente a um procurador brasileiro) Antonio Di Pietro. Hoje, o italiano diz ver a história de seu país se replicar. “Estão criando um movimento de desinformação para tentar tirar a atenção das pessoas”, afirmou.

Atualmente advogado, assim como Moro, Di Pietro largou a carreira de procurador para se tornar político. Foi ministro, deputado e senador. Há seis anos afastado, diz nos bastidores que não pretende retornar, pois o fez como “serviço, não profissão”.

Sobre o possível destino do brasileiro, acredita que pode ser o mesmo que o seu: o jurista foi alvo de mais de 200 processos partindo dos seus antigos investigados. Apesar da previsão, Di Pietro não vê ilegalidades nas conversas entre a força-tarefa da Lava Jato divulgadas pela imprensa, mas um crime na sua obtenção e divulgação. “Mas o jornalista não deve ser punido”, ressaltou.

A Lava-Jato se aproxima cada vez mais da Mãos Limpas. O que fica para o sr.?

“Deve ficar que as investigações judiciárias devem ser tuteladas e não deslegitimadas, boicotadas, com o objetivo de desviar a atenção pública daqueles que cometeram os crimes para os que perseguiram os criminosos. Fico muito triste de saber que, no Brasil, assim como na Itália, estão criando um movimento de desinformação para tentar tirar a atenção das pessoas e confundir as avaliações dos cidadãos”.

Para o sr. a pauta contra supostos abusos da Justiça substituiu a pauta anticorrupção?

“Aqui também estão recorrendo à acusação de abuso nas investigações. O crime que cometeram não pode ser justificado por acusações não comprovadas. Também fui acusado de abuso, mas fiz tudo com boa-fé. Acusar um juiz de ter cometido abusos serve para tirar a atenção da opinião pública e deslegitimar a investigação. Quando é acusada de um crime, a pessoa tem que mostrar que não cometeu, não que não gosta do juiz. É muito sem-vergonhismo”.

Como o ex-juiz Sérgio Moro, o sr. também fez parte da política. Como o senhor vê esse cenário?

“Há acusações de que ele usou a Lava-Jato para se projetar politicamente – Cada um tem direito, e o Sérgio Moro também, de deixar de ser juiz para se tornar jogador de futebol. Obviamente, deve respeitar a credibilidade da função. Se Moro não tivesse renunciado da magistratura, não teria compactuado com sua escolha. Mas ele renunciou, então não vai poder voltar nunca mais. É uma escolha legítima. Ele deve ser avaliado pelo que fez como juiz. Vejo como uma “forçação” dizer: “como agora ele é um político, quer dizer que ele não foi bom juiz”, destacou.

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