Ícone do site Jornal O Sul

Acusado de estupro por duas mulheres, filósofo é preso em Paris

Tariq Ramadan é filósofo e teólogo. (Foto: Reprodução)

O filósofo e teólogo suíço Tariq Ramadan foi detido pela Polícia Judiciária de Paris para ser interrogado no âmbito do inquérito aberto por denúncias de estupro e agressão sexual contra duas mulheres, oficializadas em outubro de 2017. A detenção provisória pode durar por 48 horas, e até o início da noite de quarta o popular e controverso pensador, acusado de adotar um discurso ambíguo em relação ao Islã, não havia sido liberado pelas autoridades francesas. Ao emergir no final do ano passado, o caso ultrapassou a área da Justiça e deflagrou uma acirrada polêmica no universo político, midiático e intelectual da França.

Em 20 de outubro de 2017, a ex-salafista Henda Ayari, hoje militante feminista e laica, acusou Ramadan de estuprá-la num quarto de hotel em 2012. Uma segunda denúncia foi feita no dia 27 do mesmo mês, de autoria de Christelle, uma francesa convertida ao Islã, que alega ter sido vítima de violência sexual pelo mesmo suposto agressor em 2009. Neto do imã egípcio Hassan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana, o filósofo e acadêmico foi licenciado em novembro passado da Universidade de Oxford, onde lecionava Estudos Islâmicos, por causa das denúncias na Justiça.

Acusações de islamofobia

Ramadan negou as acusações e denunciou, por sua vez, uma “campanha de calúnias” promovida por seus “inimigos de sempre”. O caso teve seus contornos ampliados ao ser associado, pelos apoiadores do acusado, ao clima de islamofobia na França — intensificado após os ataques terroristas praticados pelo EI (Estado Islâmico) a partir de 2015 — e a um suposto complô sionista. A ex-ministra dos Direitos das Mulheres e senadora socialista Laurence Rossignol manifestou indignação:

“Dizer que denunciar os islamistas e Tariq Ramadan é atacar os muçulmanos é uma associação prejudicial a todos os muçulmanos que vivem na França”, disparou na ocasião.

O semanário satírico “Charlie Hebdo”, vítima do mortífero atentado do EI de janeiro de 2015, também entrou na briga. Após ter publicado uma capa sobre o caso em 1º de novembro — na qual ilustrava o filósofo com um enorme pênis em ereção sob as calças, acompanhada do título “A defesa de Ramadan: ‘Eu sou o 6º pilar do Islã’” — voltou a disparar uma semana depois. Desta vez, o alvo da primeira página foi Edwy Plenel, ex-diretor do jornal “Le Monde” e fundador do “Mediapart”, um dos principais sites de notícias francês, acusado de cumplicidade e conluio com o islamólogo.

Em defesa de Plenel, cerca de 160 personalidades — entre elas o economista Thomas Piketty, a militante feminista Caroline De Haas e o escritor Jean-Claude Carrière — assinaram um texto de denúncia de “uma campanha política que, longe de defender a causa das mulheres, a manipula, para impor ao nosso país uma agenda deletéria, feita de ódio e de medo”. O próprio Plenel contra-atacou numa entrevista à rádio France Info:

“A capa do “Charlie Hebdo” faz parte de uma campanha mais geral (…), apoiada por Manuel Valls (ex-primeiro-ministro), de uma esquerda perdida, que não sabe mais onde está, aliada a uma direita, mesmo uma extrema-direita, identitária, achando qualquer pretexto, qualquer calúnia, para voltar a sua obsessão: a guerra aos muçulmanos, a demonização de tudo o que diz respeito ao Islã e aos muçulmanos.”

Já o diretor de “Charlie Hebdo”, em editorial, acusou Plenel de “condenar à morte por uma segunda vez” sua redação ao dizer que o semanário estimulava uma ampla campanha de guerra contra os muçulmanos: “Esta frase não é mais uma opinião, é uma incitação ao assassinato.”

Ao final de sua detenção provisória, Tariq Ramadan poderá retornar livre para casa ou ser indiciado pelos crimes pelos quais é acusado.

 

Sair da versão mobile