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Adeus ao home office: altos executivos voltam ao escritório

Nos últimos meses, o trabalho presencial voltou a ser uma exigência na contratação de altos executivos. (Foto: Reprodução)

O mundo corporativo está retornando ao período pré-pandemia. Nos últimos meses, o trabalho presencial voltou a ser uma exigência na contratação de altos executivos, sobretudo em empresas menores e familiares, onde o olho no olho é símbolo de comprometimento do alto staff com os donos. E isso tem causado um certo incômodo na admissão desses profissionais.

Levantamento da consultoria Soul, especializada no recrutamento de altos executivos, mostra que, de todas as vagas em aberto neste início de ano, entre 55% e 60% são presenciais, por exemplo. Para as demais (de 35% a 40%), há até a possibilidade de home office, porém, de apenas um dia na semana.

Nos últimos 12 meses, a Page Executive, unidade de negócios da PageGroup, especializada em recrutamento de executivos de alta liderança, intermediou 44 contratações. Dessas, 26, ou 59%, foram vagas para trabalho presencial, e 18 (41%) para o modelo híbrido.

O que os recrutadores notaram é que até o híbrido está mudando, com menos dias em home office. Isso tem sido um obstáculo para muitos profissionais se recolocarem no mercado. Durante a pandemia, em busca de mais qualidade de vida, eles foram com a família morar no interior e estabeleceram uma rotina de ir presencialmente ao escritório apenas algumas vezes na semana.

“O número de empresas que diminuiu os dias de home office dobrou no último ano”, diz Renata Filippi, sócia da Soul Consulting. Até 2023, ela conta que o modelo de trabalho era “mais brando”, de dois dias no presencial e três dias em home office. “Agora vejo grande parte das empresas com quatro dias no escritório e um dia em home office. Dois dias no presencial, quase não tem mais.”

A redução no número de dias de trabalho a distância na semana tem deixado os candidatos ao alto escalão desconfortáveis com a perspectiva de ter de alterar a rotina de morar fora da capital, caso a contratação se efetive. “Tive algumas recusas (de candidatos) para posições de primeira liderança no início do processo seletivo por essa questão”, conta Paulo Dias, diretor executivo da Page Executive.

Para posições de diretoria, Renata também tem visto profissionais deixando de aceitar propostas em início de processo seletivo porque a exigência do trabalho presencial pesa, entre outros fatores. “Para cerca de 30% dos candidatos que estão bem colocados na fase inicial, às vezes o processo seletivo não avança por esse motivo. E menos de 5% declina quando tudo está alinhado, apenas por conta do modelo de trabalho.”

Ao perceber a mudança de cenário, o executivo Leandro Monsores, de 51 anos, adotou a estratégia de dar preferência para as vagas presenciais, a fim de aumentar as chances de se recolocar mais rapidamente. Como diretor de Recursos Humanos na companhia alemã de logística DHL Supply Chain, ele trabalhava três dias na semana presencialmente e tinha bastante flexibilidade.

Em 2023, quando deixou a empresa e voltou ao mercado, constatou que a maioria das vagas para C-Level era presencial. Decidiu, então, dar preferência para esse modelo de trabalho. “Se optasse por vagas presenciais, a probabilidade de me recolocar seria mais rápido”, observa.

E foi exatamente o que aconteceu. Faz um mês que Monsores foi contratado para ocupar a posição de diretor de RH na multinacional francesa FM Logistic. Foram quatro meses no mercado em busca de uma nova oportunidade de trabalho. “Se tivesse colocado como quesito o trabalho híbrido, demoraria um ano”, calcula.

Quando saiu da antiga empresa, ele se mudou com a família de Campinas (SP) para Tamboré, em Barueri (SP), mais próximo da capital paulista, porque a maioria das vagas era na cidade de São Paulo.

Na nova empresa, Monsores tem a opção de trabalhar quatro dias presenciais e um remoto. Mas ele prefere ir ao escritório todos os dias. “Logística é um setor vivo, a operação tem muitas variáveis, e no home office se perde muita coisa.” Várias razões são apontadas pelas empresas para impor o retorno ao trabalho presencial. Entre elas, estão aumentar o engajamento, fortalecer a cultura organizacional e até superar questões de como controlar a produtividade dos funcionários.

No entanto, com o fim da crise sanitária, companhias multinacionais estão sentindo os custos adicionais impostos pelo home office, como a obrigatoriedade do pagamento de serviço de internet aos funcionários e vale-supermercado, por exemplo. Além do desempenho dos funcionários, a exigência do trabalho presencial visa reduzir essas despesas.

Apesar de os consultores frisarem que, quanto mais alto o cargo de liderança, mais se impõe o trabalho presencial, eles notaram uma certa tendência de flexibilização por parte das empresas para esses profissionais. A intenção é acomodar as demandas dos candidatos a altos níveis hierárquicos e manter a atratividade das vagas. “Quando a empresa dá a chance de o C-Level ter pelo menos um dia em casa, ele aproveita; e, quando não há flexibilidade, existe, sim, a busca por outras oportunidades”, ressalta a sócia da Soul.

No caso de profissionais de alta escalão já empregados, a flexibilização pode se traduzir em manter o mesmo nível de remuneração e permanecer num modelo híbrido de trabalho, em vez de ganhar mais e ter de migrar para o presencial.

A flexibilização do modelo de trabalho é mais comum nas empresas multinacionais, que têm uma estrutura tecnológica robusta para suportar o trabalho remoto. Além disso, já faz parte da rotina dessas companhias políticas globais de bem-estar e gestão por desempenho. No caso da Soul, todas as grandes multinacionais atendidas pela consultoria dão de um a dois dias de home office na semana para os altos executivos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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