O diretor da Agência de Inteligência Americana (CIA), William Burns, anunciou a criação de uma novo centro de comando com foco na China, que ele qualificou como “a mais importante ameaça geopolítica do século 21”. A novidade é mais um sinal de que os EUA se preparam para uma luta longa contra Pequim.
Descrevendo um esforço que envolverá todos os escritórios da agência, um funcionário da CIA afirmou que a China é um rival mais temível e complicado do que foi a União Soviética, durante a Guerra Fria, em razão do tamanho de sua economia, que é completamente entrelaçada à dos EUA e possui um alcance global próprio.
Assim como fez em relação aos soviéticos, a CIA acionará mais agentes, linguistas, técnicos e especialistas em países de todo o mundo para coletar informações de inteligência e fazer frente aos interesses da China, afirmou o funcionário, que falou sob a condição de anonimato para poder relatar mais fielmente as ideias de Burns, anunciadas em um encontro privado com agentes.
“A CIA também recrutará e treinará mais pessoas que falem mandarim”, afirmou o funcionário. Ele acrescentou que Burns passará a se reunir semanalmente com o diretor da nova central de comando e também com outros chefes de escritórios da agência, para desenvolver uma estratégia coesa.
O ex-diretor da CIA John Brennan, que coordenou uma abrangente reorganização na agência durante o governo de Barack Obama, elogiou Burns pela nova abordagem. “Se algum país merece uma central de comando própria, é a China, que tem ambições globais e apresenta os maiores desafios aos interesses americanos e à ordem internacional”, afirmou.
Sob a liderança da antecessora de Burns, Gina Haspel, a CIA iniciou uma transição de um tempo de guerra – durante o qual a agência teve como foco principal se infiltrar em redes terroristas e desmantelá-las – para se voltar para os chamados alvos concretos, principalmente a China, Rússia, Irã e Coreia do Norte.
Burns afirmou que o foco em outros países não diminuirá e a CIA continuará com as missões de contraterrorismo. Mas a criação da nova central para a China indica que o país é – e provavelmente continuará a ser – o alvo número 1 da agência.
Quatro anos atrás, a CIA criou novas centrais para consolidar seu trabalho no Irã e na Coreia do Norte. O ex-diretor da CIA Mike Pompeo foi responsável pela instalação das duas centrais, em 2017, quando o governo de Donald Trump aumentou a pressão para deter o programa nuclear iraniano e forçou a Coreia do Norte a negociar seu arsenal nuclear.
O funcionário da CIA afirmou que, em relação a Irã e Coreia do Norte, a agência considerava crucial trabalhar com aliados regionais, e não isolar os esforços em centrais separadas. A China, segundo ele, é um adversário singular, porque nenhum outro país sozinho requer um trabalho que se estenda a todas as áreas de atuação, como coleta de informações de inteligência, análises, linguística e tecnologia.
Burns também está colocando em prática outras mudanças na estrutura da CIA e seu processo de contratação de funcionários, destinadas em parte para tornar a agência mais competitiva. Atualmente, pode levar até dois anos para candidatos a postos de trabalho serem aprovados, depois de entrevistas e de uma demorada checagem de segurança. O funcionário afirmou que a agência trabalhará para diminuir o tempo do processo de admissão para seis meses.
A CIA também criará um novo programa de parcerias em tecnologia para permitir que especialistas do setor privado trabalhem um ou dois anos na agência e um novo diretor de tecnologia deve ser indicado, afirmou o funcionário.
Ainda que a CIA tenha se destacado ao longo de toda sua história na fabricação de tecnologias para espionar adversários, a rápida evolução da tecnologia comercial deixou a agência em desvantagem. Hoje, por meio de simples buscas na internet, serviços de inteligência rivais são capazes, às vezes, de identificar agentes da CIA em seus países e descobrir quem eles estão tentando recrutar como espiões, afirmaram funcionários e ex-funcionários da agência.
Ao mesmo tempo, a dependência da CIA em relação à tecnologia para se comunicar com suas fontes no exterior pode ter ajudado a identificá-los. Cerca de 10 anos atrás, autoridades chinesas e iranianas invadiram o sistema secreto de comunicação da CIA e conseguiram identificar e deter agentes em seus países, de acordo com fontes familiarizadas com erros da agência.