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Agronegócio sofre com resultados negativos, apesar de safra recorde

“Os efeitos climáticos começaram a prejudicar as lavouras brasileiras. Houve quebras de safras importantes”, afirma Silveira. (Foto: Arquivo/Emater-RS)

Prestes a ter uma safra recorde — com uma colheita estimada de 336,1 milhões de toneladas, o que significará um aumento de 13% na comparação com a anterior —, o agronegócio brasileiro também atravessa um período de resultados negativos. No ano passado, registrou o maior número de pedidos de recuperações judiciais (RJs) e, no primeiro trimestre de 2025, elevou a inadimplência do setor rural no Banco do Brasil a patamares superiores à média histórica.

Os pedidos de RJ no agro aumentaram 58,4% em 2024 e chegaram a 1.272, segundo dados da Serasa Experian. Quando se consideram apenas as solicitações de pessoas físicas, o total passou de 127 para 566, um crescimento de 345,7%.

No Banco do Brasil, instituição financeira que mais concede crédito rural no País, a inadimplência alcançou 3,04% entre janeiro e março deste ano. No mesmo período de 2024, esse número havia sido de 1,9%.

“Apesar do cenário positivo para a safra no Brasil em 2025, com uma colheita recorde, e do elevado porcentual de garantias nessa carteira, há um estoque de operações que vem sendo tratado da safra 2023/2024, inclusive, por conta das recuperações judiciais no setor — que exigem maior provisionamento sob a nova regulação”, diz o relatório de apresentação dos resultados do BB do primeiro trimestre de 2024.

Segundo consultores e especialistas do setor, há produtores que vêm sofrendo com variações significativas nas cotações das commodities e com o aquecimento global, que tem afetado as colheitas. Há também, no entanto, motivos para não se alarmar com os dados de RJs, afirmam eles.

Para José Carlos Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria, uma das explicações para o crescimento no número de pedidos de RJ é o fato de os produtores terem aumentado seus investimentos quando os preços das commodities estavam elevados e terem sido pegos endividados quando as cotações caíram. Em janeiro de 2022, a saca da soja, por exemplo, era cotada a R$ 184,40. No começo deste ano, o preço era de R$ 128,32 — queda de 30,4%.

No ano passado, a quebra da safra decorrente de condições climáticas adversas, aliada a essa queda nos preços, fez os ganhos dos produtores diminuírem ainda mais. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de 2023/2024 foi 6,7% menor que a do ciclo anterior.

“Agora tem essa ressaca. Os preços continuam mais baixos. A rentabilidade também”, diz Hausknecht. O consultor explica que os preços estão se reacomodando após terem avançado com a guerra na Ucrânia.

O grande nó é que as margens ampliadas de safras passadas foram assumidas como um “novo normal” por parte de alguns produtores, que, agora, num momento de dificuldade, ficaram sem recursos para pagar as dívidas feitas para, por exemplo, comprar terras e maquinários.

“As safras 2019/2020, 2020/2021 e 2021/22 foram excelentes e com muita geração de caixa”, afirma Manoel Pereira de Queiroz, sócio sênior da Mapa Capital. “O produtor ganhava dinheiro, comprava terra e foi imobilizando (o seu capital). Ele tinha a sensação de que o paraíso não iria acabar nunca.”

O cenário mais difícil no campo fica evidente na queda da receita agrícola. Ela chegou a R$ 931 bilhões em 2022, mas recuou nos anos de 2023 (R$ 887 bilhões) e 2024 (R$ 881 bilhões), segundo cálculo de Fábio Silveira, sênior advisor de macroeconomia da Volt Partners.

“Os efeitos climáticos começaram a prejudicar as lavouras brasileiras. Houve quebras de safras importantes”, afirma Silveira.

Ao mesmo tempo, a alta do dólar deixou os insumos mais caros, e a subida dos juros também começou a afetar o produtor, que precisava se alavancar com financiamento para colocar a produção de pé. De setembro do ano passado até maio deste ano, a Selic (a taxa básica de juros da economia) subiu de 10,50% ao ano para 14,75% ao ano. Na pandemia, havia chegado a 2%.

“A cadeia produtiva está comprometida de maneira importante, em que pese o fato de que há uma luz em 2025”, afirma Silveira. Neste ano, a estimativa dele é que a receita agrícola suba a R$ 969 bilhões.

O agro do Rio Grande do Sul é um dos que mais sofre, principalmente devido às condições climáticas. Diferentemente do resto do País, as safras do pós-pandemia ficaram aquém do esperado devido à seca. No ano passado, foi a vez da chuva derrubar a produção.

“Tivemos quatro safras frustradas por seca nos últimos cinco anos. E, no ano que não faltou chuva, choveu em excesso. Na inundação, perdemos 2,5 milhões de toneladas de soja”, diz o presidente da Aprosoja-RS, Ireneu Orth.

Sem motivos para pânico

Apesar do panorama negativo no Rio Grande do Sul, o diretor de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, afirma que os números nacionais de RJs no agro estão “criando uma perspectiva que não existe”. Segundo ele, as solicitações de proteção contra credores são poucas quando comparadas ao universo de concessões de crédito do setor.

“Estão criando pânico em relação a isso, levando instabilidade para o crédito no agro como um todo, que, racionalmente, não existe”, diz Pimenta. “Foram 560 pedidos de produtores de um total de 1,5 milhão de transações. É um número muito baixo”, acrescenta. As informações são do portal Estadão.

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