A atual Copa do Mundo de Clubes, realizada nos Estados Unidos, oferece uma pista da importância da hidratação ao longo da prática esportiva. Nas partidas de futebol em que os termômetros ultrapassaram os abafados 32 graus numa medida baseada no índice de “temperatura de globo úmido”, chamado em inglês de WBGT, há paralisação (depois de 30 minutos de jogo) para que os atletas possam beber água. Trata-se de uma forma de permitir que os jogadores se recomponham e possam voltar a campo para dar conta de mais minutos de bola rolando. Absoluta aliada para atenuar o calor, a água deve ser presença carimbada em todos os esportes, alertam especialistas. Mesmo naqueles dias em que o clima não está tão quente assim.
Médicos e nutricionistas afirmam que beber água ao longo do dia e da prática esportiva é essencial para a boa recuperação muscular, a manutenção da temperatura do corpo em níveis adequados, além de ter efeito na concentração mental e no bom desempenho.
O endocrinologista e médico do esporte do Instituto Cohen, Clayton Luiz Macedo, diz que todos esses benefícios, evidentemente, também são notados nos adolescentes que gostam de atividades físicas. A eles, porém, o especialista pede que haja uma atenção especial para evitar episódios de desidratação.
“Temos no cérebro, no hipotálamo, um centro que regula a sede. Lá temos os chamados sensores de osmolaridade, que avaliam a concentração de substâncias no organismo versus o que temos de água. Esses centros normalmente são estimulados quando a gente começa a perder líquido. É ai que surge a sensação de sede”, explica o especialista. “Quando trabalhamos com crianças e adolescentes, porém, é importante estimular a hidratação mesmo antes da sede. As crianças não percebem a sede e os adolescentes, por vezes desligados, não notam essa indicação do organismo e mesmo sentindo a sede não bebem água. Desse modo, o organismo acaba se acostumando com uma hidratação aquém do ideal. A dica para essa faixa etária é não esperar notar a sede, porque quando ela vêm já é possível que o corpo tenha ficado desidratado.”
Há atalhos, explica Macedo, para reconhecer que a hidratação correta foi atingida. A urina, por exemplo, se estiver em tons de amarelo escuro, ou até mesmo alaranjada, indica que é preciso beber mais água. O ideal são os tons mais claros. A mucosa dos olhos, e da língua, também se mostram mais “brilhosas”, viçosas, quando há agua suficiente no organismo.
“Com a falta de água as células também ficam desidratadas. O exercício, por sua vez, causa um tipo de inflamação subclínica e a desidratação pode acentuar isso. O cérebro também é muito sensível à falta de água e isso mexe com a capacidade de vigília e de tomada de decisão”, afirma o médico.
O aumento do calor, como mostrou o torneio da FIFA, também reforça a necessidade da hidratação ao longo da realização de atividades físicas. Um documento da Comissão de Medicina Esportiva Pediátrica da Sociedade Alemã de Medicina do Esporte e Prevenção, preparado em de 2019, diz que, em ambientes de estresse térmico, há a sugestão de que crianças e adolescentes bebam água 15 ou 20 minutos antes prática esportiva – algo em torno de 5 a 7 ml por quilo de peso corporal, ou seja meia garrafinha ou dois copos e meio de água para quem tem cerca de 50 kg.
Também é indicado que se beba de 10 a 13 ml de água por quilo a cada hora de atividade, se ultrapassar. Além, é claro, da indicação de procurar horários e locais mais frescos para treinar. Nesse caso, uma pessoa de 50 kg deveria beber cerca de uma garrafinha de água inteira para uma hora de atividade sob forte calor.
Em linhas gerais, a indicação é de que o volume de água bebida por meninos e meninas acima de 14 anos esteja entre 2 e 2,5 litros d’água por dia, conforme indica a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos. Ou seja, praticamente o mesmo volume recomendado para adultos.
Os especialistas em saúde indicam que muitas são as maneiras de facilitar e aumentar o consumo de água ao longo das práticas esportivas. Celulares e relógios inteligentes, por exemplo, podem trazer lembretes para fazer pausas para hidratação. Uma garrafinha a tiracolo também pode facilitar o processo.
“O líquido tem que ser reposto ao longo o dia todo, porque vamos perdendo água ao longo das horas. Não existe a melhor hora para hidratar-se. Porém, vale lembrar que ao acordar pela manhã teremos passado muitas horas sem nos hidratar. Então, ao despertar, é bom optar pelo consumo do líquido”, diz Sabrina Theil, nutricionista, CEO da Clínica Doutora Fit. “Na atividade física, por sua vez, o suor faz com que se perda alguns eletrólitos (como por exemplo o sódio). Então em exercícios de muita intensidade como a maratona e meia maratona é importante também prestar atenção a esse fator.”
Sabrina diz ainda que o líquido ideal para hidratar-se é, em geral, a água. Apesar da resistência de alguns. “Escuto muitos pacientes falando que não gostam de água, que é muito ruim. Por vezes é preciso ensinar a criar o hábito de consumir água. Nesses momentos, uma técnica que gosto é saborizá-la com pedaços de frutas. Não fazer um suco, mas colocar alguns pedaços de fruto dentro da água para dar um gostinho. Ou, então, colocar folhas de hortelã”, aconselha a especialista. “Em relação a horários de consumo, cada um pode encontrar a maneira que se sente melhor, não há receita de bolo para isso.” As informações são do jornal O Globo.