Mais de uma semana antes de serem presos na última quinta-feira pela Operação Skala da PF (Polícia Federal), o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima, amigos pessoais do presidente Michel Temer, haviam sido denunciados pelo MPF (Ministério Público Federal) por suspeita de participação em uma organização criminosa ligada ao MDB.
Entre a formalização do documento (no dia 21) e a deflagração da força-tarefa (29), foram exatamente oito dias. Yunes e Lima foram denunciados com base em dados reunidos durante a investigação do caso batizado como “quadrilhão do MDB”. Como eles não têm foro privilegiado, o inquérito foi desmembrado e endereçado à 12ª Vara Federal de Brasília. Outras três pessoas estão em situação semelhante no processo, mas os seus nomes seguem sob sigilo.
A Skala apura a atuação do grupo político ligado a Temer e que seria formado por aliados como o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e os ex-ministros Henrique Alves e Geddel Vieira Lima, o ex-deputado e ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures e os atuais ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Com exceção dos dois últimos, que dispõem do foro, os demais estão presos.
O foco da investigação é uma série de irregularidades atribuídas a integrantes de partidos e ocorridas em diversos escalões da administração pública, como na Caixa Econômica Federal. Há, ainda, suspeitas de irregularidades no setor portuário, com provas distintas das que nesse momento estão em avaliação.
O desmembramento do caso e as investigações que correm em paralelo poderão servir de subsídio para o trabalho da PGR (Procuradoria-Geral da República) e a da PF, no âmbito da Operação Skala.
A expectativa é de que informações e provas obtidas durante a investigação em curso, envolvendo as cinco pessoas sem foro privilegiado, sejam em uma segunda etapa remetidas à PGR, como eventual subsídio no inquérito que tem como alvo principal o presidente Temer, responsável pela edição do chamado “Decreto dos Portos”. Dentre as empresas supostamente beneficiadas pela medida do presidente está a Rodrimar, que atua no porto de Santos (SP).
Prisões
Na quinta-feira, além de Yunes e do coronel Lima, foram presos Antônio Celso Greco (dono da Rodrimar), Celina Torrealba (do grupo Libra), o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi (indicado por Temer para o cargo em 2015, durante o segundo mandato da então presidenta Dilma Rousseff) e seu auxiliar Milton Ortolan.
As prisões foram solicitadas pela procuradora-geral da República, Raquel Dogde, e autorizadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, relator na Corte do inquérito que investiga se Temer, por meio do decreto, beneficiou empresas do setor portuário em troca de propina.
Se a denúncia for aceita, Yunes e Lima se tornarão réus e poderão responder por crime de organização criminosa. A pena prevista nesses casos é de três a oito anos de prisão. Ambos cumprem prisão temporária, dentro da Operação Skala. O prazo vence na próxima terça-feira, podendo ser prorrogado por mais cinco dias.
