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Antes da pandemia, Donald Trump tinha a preferência, mas o vírus e suas consequências derrubaram o presidente

Trump repetiu o modus operandi de todo o seu mandato e pautou o combate à crise pela lógica eleitoral. (Foto: Reprodução/Twitter)

A eleição americana parecia resolvida quando o ano de 2020 começou. A taxa de desemprego mais baixa dos últimos 50 anos fundamentava o apoio sólido que Donald Trump tinha de uma parcela determinante do eleitorado em Estados cruciais para a definição da presidência americana. Rachada, a oposição democrata não encontrava um denominador comum.

Aos 77 anos e distante da imagem que inspira a nova geração, Joe Biden largou mal na disputa interna do partido. O caminho estava aberto a Trump. Mas a pandemia chacoalhou o mundo e mudou a corrida à Casa Branca. Trump repetiu o modus operandi de todo o seu mandato e pautou o combate à crise pela lógica eleitoral.

Jogou na China a culpa pelo drama de saúde e nos governadores a responsabilidade pela recessão comparável à Grande Depressão. O plano fracassou, segundo os americanos: 60% reprovam a forma com o presidente tratou a pandemia. A maior potência econômica do mundo não soube evitar 230 mil mortes e 9 milhões de infectados. Quem se informava pelos tuítes do presidente, no entanto, lia que os EUA estavam com o vírus “sob controle”.

A oposição selou a união um dia depois de Nova York romper a marca de 1 mil mortos em 24 horas. Símbolo da esquerda americana, o senador Bernie Sanders não só desistiu de competir contra Biden, como passou a trabalhar pelo representante da ala moderada, em uma posição bem distinta da que adotou em 2016, quando perdeu a nomeação para Hillary Clinton.

O desemprego explodiu e o vírus passou a atingir Estados republicanos. A população viveu o drama dentro de casa, enquanto as ruas ficaram desertas, e Trump seguiu em busca de culpados. A tensão social e racial se elevou com episódios de brutalidade policial gravados em vídeo, que levaram milhares às ruas contra o racismo.

Manifestantes jovens culpavam Trump por dividir a sociedade. No seu mandato, os imigrantes foram associados a criminosos e os grupos supremacistas brancos não foram publicamente condenados. A escalada no conflito civil fez manifestantes atirarem uns nos outros em agosto, com três mortes.

A campanha pouco empolgante de Biden caiu como uma luva para o eleitorado que se dizia exausto de quatro anos de tuítes diários com ataques escritos em letras maiúsculas. “Joe sonolento”, o apelido pejorativo dado por Trump a Biden, virou um elogio para os que buscam normalidade.

Em um ano fora do eixo, o político tradicional, branco, idoso e alvo de acusação de assédio sexual ganhou força com uma plataforma de inclusão e diversidade. Para isso, convidou a primeira mulher negra a concorrer como vice da chapa de um grande partido. Kamala Harris deu o selo de confiança à promessa de Biden de que ele será apenas um político de transição e o partido terá espaço para se renovar.

Trump, um bilionário apresentador de reality shows, foi eleito em 2016 com o discurso de um outsider capaz de proteger o país da criminalidade, do desemprego, dos imigrantes e de inimigos externos. Os americanos voltariam a ser grandes de novo, segundo ele. Quatro anos depois, a campanha se tornou uma disputa pelos eleitores que seguem fiéis ao republicano e aqueles que pensam que a maior ameaça vem, na verdade, de dentro do Salão Oval.

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