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Ao menos dez dirigentes da ala feminina do partido de Bolsonaro são familiares ou casadas com políticos da sigla; elas miram o exemplo da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, cotada a sucessora do marido

PL Mulher vira plataforma de esposas de políticos para 2026. (Foto: Reprodução)

Na esteira da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que assumiu a presidência do PL Mulher há dois anos, parentes de outros políticos da legenda também vêm sendo empossadas em diretórios femininos de estados e municípios.

Levantamento do Globo identificou ao menos dez casos de dirigentes do PL Mulher que são casadas ou têm parentesco com políticos do partido. A estratégia dá visibilidade a elas, que pretendem se cacifar para disputas eleitorais em 2026, a despeito de serem inexperientes em funções públicas.

Dana Vidal Costa, mulher do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, comanda o grupo feminino do partido em Mogi das Cruzes (SP), reduto do marido. Ela, que também atua em um escritório de advocacia, diz não receber remuneração da sigla, dirigida há quase três décadas por Valdemar. Michelle, por sua vez, recebeu em janeiro aproximadamente R$ 30 mil da legenda como remuneração.

A mulher do presidente do PL, que define a ex-primeira-dama como “inspiração” e “líder”, reconhece que sua proximidade com a política começou por “questões familiares e de convivência”.

“Mas foi no PL Mulher que realmente mergulhei no trabalho. Desde que tomei posse, tenho atendido mulheres para entender as demandas da minha região e capacitá-las visando a participação nos próximos pleitos”, afirma Dana.

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Cotada para disputar a eleição presidencial no lugar de Jair Bolsonaro, que está inelegível após condenação no Superior Tribunal Eleitoral (TSE), Michelle contou com o cargo no PL Mulher para se consolidar como uma figura atuante politicamente. O movimento já vinha sendo ensaiado na campanha de 2022, quando discursou em comícios de Bolsonaro e procurou reduzir a rejeição do eleitorado feminino ao então presidente.

Espelhando-se nos passos de Michelle, a atual presidente do PL Mulher de Niterói, Lays Jordy, vê o posto como porta de entrada na política. Lays, que antes acompanhava agendas do marido, o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), pretende concorrer a deputada estadual no Rio em 2026.

Ela avalia que sua atuação pode se refletir na imagem do marido como político:

“Através do diretório, acabamos fazendo ações que nos impulsionam como casal.”

O cientista político Antonio Lavareda lembra que há um cenário de baixa representatividade de mulheres na política — elas representavam apenas 18% da Câmara dos Deputados em 2024, por exemplo —, e avalia que estratégias como a do PL Mulher buscam suprir uma demanda eleitoral sem representar rupturas com o atual modelo:

“Fica fácil para os políticos que têm liderança e contingente eleitoral transferir os apoios de que desfrutam. Assim como fazem com filhos, esse movimento é frequente.”

No Espírito Santo, os cargos no PL Mulher foram ocupados pelas filhas do senador Magno Malta (PL-ES). Karla Malta está à frente do diretório estadual do núcleo, que tem Maguinha Malta, outra filha do senador, como vice-presidente.

Segundo Karla, sua entrada no PL Mulher surgiu como uma “missão” apresentada por Michelle Bolsonaro. Ela afirma não ter pretensões de disputar cargos eletivos, diferentemente da irmã, Maguinha, que planeja se lançar ao Senado no ano que vem. O objetivo pode levá-la a atuar em dobradinha com o pai, cujo mandato de senador vai até 2030.

“Acredito no protagonismo da mulher na política não como resultado de cotas ou vitimização, mas de mérito e coragem. Não me identifico com o feminismo de confronto, mas acho que a mulher pode estar onde quiser, inclusive no Senado”, afirma Maguinha.

Cofundadora d’A Tenda das Candidatas, projeto que atua na capacitação e ampliação da participação feminina na política, Laura Astrolabio diz que é importante analisar o histórico dessas novas lideranças.

“Temos que avaliar seus projetos e como suas trajetórias dialogam com as reivindicações dos movimentos de mulheres. É preciso saber se estão ali para herdar capital político de pai ou marido e, se eleitas, atenderão aos interesses deles”, pondera Astrolabio, que é advogada e mestre de Políticas Públicas em Direitos Humanos pela UFRJ. (Com informações do jornal O Globo)

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