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Aos 47 anos, Danielle Winits fala que foi transformada pela dor e celebra o momento ao lado de André Gonçalves

Danielle Winits celebra 47 anos: sem arrependimentos. (Foto: Reprodução/Instagram)

“Só quem nunca faz algo nunca comete erros”. Se quiser, Danielle Winits pode tatuar a frase, atribuída aos pensadores russos, seus antepassados, em alguma parte do (belíssimo) corpo. Metade forjada pelos soviéticos, outra pelos portugueses, a loura, no entanto, é genuinamente carioca. Daquelas que frequentam o Leblon (antes da pandemia, que fique claro), curtem cerveja na calçada do boteco, de preferência usando short e chinelos. Uma imagem que passa longe daquela construída em torno da atriz, apontada como uma sex symbol, femme fatale, a gostosa arrasa-quarteirão. Em seu íntimo, ela jura, esse estereótipo só existe no imaginário coletivo. E ela decidiu “vesti-lo” em vez de combatê-lo. “Eu fui muito julgada. Parecia que eu precisava provar algo o tempo todo. Eu me questionava por que eu não podia ser o que eu queria e fazer o que me desse vontade. Como se botar um peito fosse um crime ou aparecer namorando ou separando. Então, me pus nesse lugar. De uma forma bem inteligente, dei às pessoas o que ela esperavam de mim. Por outro lado, construí uma mulher forte, menos ansiosa e que hoje sabe dizer não”, avalia, da maturidade de seus 47 anos, festejados no último sábado.

Motivos para comemorar um novo ciclo não faltam. Neste último domingo, ela fez mais uma apresentação no “Dança dos famosos”, depois de se recuperar de um rompimento de ligamentos no tornozelo esquerdo que quase a fez ficar fora do quadro. “Foi um passo tão idiota! Se eu estivesse dando um duplo mortal carpado, entenderia a gravidade. Mas não. Tive muito medo de não conseguir voltar. Medo não. pena. Porque esse trabalho apareceu num momento tão necessário, depois de um ano cheio de incertezas com essa pandemia. O prazer de estar ali, fazendo algo inédito, para levar entretenimento às pessoas… Eu ia perder isso. Não a competição. Mas o processo. Eu me coloquei super disponível ali para aprender e valorizar cada segundo”, descreve ela, que retornou ao palco do “Domingão” semana passada e recebeu cinco notas 10.

O tratamento ortopédico intensivo, a fisioterapia — dolorida muitas vezes —, e a persistência de Danielle fizeram com que o tal processo não fosse interrompido. E fizeram surgir nela um sentimento que nunca houve: o de vencer, por que não? “Nunca ganhei nem rifa de escola, uma linha de bingo. Sou zero competitiva. Meu espírito é aquele de participar e agregar. Mas ao longo dos ensaios, do tratamento, das conversas com o André (Gonçalves, seu marido e “adversário” no “Dança”), percebi que não há problema em ter esse lado também. Eu posso estar na final, quem sabe”, pondera.

Sim, ela e André, casados há quatro anos, estão rodopiando, cada um no seu quadrado, nessa disputa. Quando ela se machucou, ele continuou ensaiando. Mas com dor no coração, ela aposta: “Disse para ele: ‘Não quero que você fique constrangido de curtir tudo isso, pois tenho certeza que você me diria o mesmo’. E o André me entendeu, pois ele sabe o quanto estou feliz e grata por ter sido convidada. É inexplicável o que eu sinto e parece clichê, mas foi um presente real”.

Assim como foi ter vivido há 17 anos a batalhadora Marisol, protagonista de “Kubanacan”, que retorna no Globoplay nesta segunda-feira, 7. Dani ainda não tinha completado 30 anos, vinha de vários sucessos, alguns deles no papel da loira sensual desprovida de intelecto, e a personagem a colocou num outro patamar. “Fiquei morena, era meu primeiro papel como mãe, uma mulher que sofria. Algo muito importante para mim, que sempre ficava na dúvida de quando seria olhada como uma mulher capaz de transitar em outra dramaturgia que não fosse aquela de jovenzinha. Hoje, vejo que Marisol foi uma preparação para a maternidade, tive o Noah dois anos depois. Nossa…vêm muitas imagens na minha cabeça dessa época. Era uma delícia gravar com Adriana (Esteves), Brichta (Vladimir). Lembro do último dia de gravação, eu e o Pasquim (Marcos, seu par romântico) chorando muito. De alívio, porque a gente gravava num ritmo insano, e também de tristeza porque ia acabar algo tão bonito”, recorda.

Nesse tempo, Danielle surgia com frequência em capas de revistas, sites de entretenimento e colunas de fofoca. Quase sempre a notícia envolvia sua vida amorosa bastante agitada. Fizeram parte do convívio da atriz nomes como Selton Mello, Sergio Marone, André Segatti, Bruno Gagliasso, Cassio Reis, com quem casou e teve Noah, de 12 anos, Jonathas Faro, pai de Guy, de 8, Amaury Nunes até chegar em André Gonçalves, que se equipara ao currículo afetivo de Dani. Ninguém achava que ia vingar. “Nos conhecíamos há muito tempo. Depois, participamos de uma competição culinária no ‘Mais você’. Acho que foi um encontro mesmo. De duas pessoas que viveram suas dores, eu tenho as minhas e André as dele, coisas que vivenciamos de formas diferentes e tudo isso nos deu completude”, justifica.

Com André, Dani está reformando uma casa que compraram em São Conrado, na Zona Sul do Rio, planejando um futuro de parceria profissional no Instituto Daniele Winits, de interpretação (empreendimento nascido na pandemia), planejando um filho, quem sabe, e tomando o cuidado de não atropelar nada. “Eu digo que os 20 e 30 anos são uma tortura. Meu Deus! É uma ansiedade constante, uma cobrança… E eu sempre fui muito cobrada por tudo, aquilo era uma tormenta. Até por posar nua duas vezes fui criticada: ‘Nossa, mas vai posar de novo?’. Sim! queria ter fotos lindas para guardar, fiz porque eu me senti bem, bonita, confiante, porque a grana era excelente e artista é operário, sim! Quando fiz 40 anos foi tão libertador sair desse lugar… Eu já não dava mais a mínima sobre o que falariam de mim, se iriam inventar coisas, me censurar. Não me arrependo de nada até aqui. Prefiro me arrepender do que não fiz”. “Perder o passado é correr atrás do vento”, diz.

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