Após ter conhecimento da revogação das prisões de amigos do presidente Michel Temer pela Operação Skala da PF (Polícia Federal), o governo avalia que a decisão deve reduzir a tensão institucional dos últimos dias mas não será capaz de reverter o prejuízo à imagem do emedebista, que não esconde o desejo de concorrer na eleição deste ano.
De acordo com assessores do Palácio do Planalto, o “estrago político está feito” e “não tem volta”. E que essa conjuntura tratá danos às articulações do chefe do Executivo para disputar um novo mandato.
Fontes próximas de Temer ressalvam que os pedidos de soltura, encaminhados pela titular da PGR (Procuradora-Geral da República), Raquel Dodge, e aceitos em seguida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Roberto Barroso, mostraram que as prisões preventivas não eram necessárias. O entendimento deles é de que bastaria ter seguido o que foi requisitado pela PF, ou seja, a realização de uma intimação simultânea de todos os investigados.
O primeiro escalão do governo acredita que a única prisão que poderia ser justificável seria a do ex-coronel João Batista Lima Filho, porque ele vinha “fugindo” de prestar depoimento nos últimos nove meses. Lima, por sinal, manteve sua posição de não depor. A recusa, conforme os seus advogados de defesa, deu-se por “por motivos de saúde e falta de condições emocionais”.
A sua esposa, Maria Rita Fratezi, também não ajudou. Alegando os mesmos motivos, na sexta-feira ela chorou e não prestou esclarecimentos úteis na oitiva que prestou à PF em São Paulo, apesar de o seu escritório de arquitetura (no qual é sócia com o próprio amigo de Temer) ter comandado uma reforma considerada suspeita na casa da psicóloga Maristela Temer, uma das filhas do presidente.
No que se refere aos demais envolvidos, porém, assessores do emedebista destacam que alguns deles já deram até depoimentos espontâneos e estariam à disposição da Polícia Federal. O Palácio do Planalto segue com a mesma avaliação, manifestada em nota divulgada na sexta-feira (um dia após a deflagração da Operação Skala) e segundo a qual o objetivo da força-tarefa era “retirar Michel Temer da disputa política”.
Agora, para a equipe do Planalto, a revogação das prisões já alivia um pouco a tensão política e institucional dos últimos dias, mas o “estrago está feito”, ou seja: o governo ainda tem pela frente mais dificuldades.
Reforma ministerial
Ao longo desse domingo, Temer deu prosseguimento às articulações de bastidores para fechar a sua próxima reforma ministerial. Uma das prioridades da próxima “dança das cadeiras” é a busca de reorganização da sua base aliada no Congresso Nacional e evitar “tropeços” como a eventual autorização da Câmara dos Deputados para que a PGR apresente uma terceira denúncia contra ele por corrupção.
Para mostrar que o governo não está paralisado após a Operação Skala, ele marcou para esta segunda-feira a posse de dois novos titulares de pastas: Gilberto Occhi assumirá a Saúde no lugar de Ricardo Barros (PP) e Valter Casimiro Silveira ficará com o Ministério dos Transportes, hoje ocupado por Maurício Quintella (PR).
Com a saída de Occhi da Caixa Econômica Federal, o comando do banco passará ao vice-presidente de Habitação, Nelson Antônio de Souza, que também toma posse segunda. A cerimônia conjunta está marcada para as 10h30min, no Palácio do Planalto.