Após perder vaga no Minas Tênis Clube e na Seleção Brasileira de vôlei, o jogador Maurício Souza parece estar investindo em uma nova profissão: a de influencer digital. As publicações de teor homofóbico feitas pelo jogador o fizeram saltar de 200 mil seguidores no Instagram para 1,7 milhões em menos de uma semana.
Na noite da última quinta-feira (28), quando atingiu 700 mil seguidores, Maurício publicou um vídeo agradecendo o apoio e jogando uma indireta. “Eu tinha 200 mil seguidores e agora tenho 700 mil. E, graças a Deus, eu não precisei ficar sambando em cima de cama, nem ficar desfilando na quadra para ganhar respeito e admiração de vocês”.
Internautas acreditam se tratar de uma indireta para o jogador Douglas Souza, da seleção brasileira, que é gay assumido. Douglas fez sucesso nas Olimpíadas de Tóquio ao compartilhar vídeos nos bastidores da competição, onde aparecia dançando nos quartos e desfilando nas quadras.
As publicações de teor homofóbico de Maurício causaram um atrito com Douglas, que criticou o ex-companheiro de seleção. “Engraçado que eu não virei heterossexual vendo os super-heróis homens beijando mulheres. Se uma imagem como essa te preocupa, sinto muito, mas eu tenho uma novidade pra sua heterossexualidade frágil. Vai ter beijo sim. Obrigado DC por pensar em representar todos nós e não só uma parte”, publicou Douglas nas redes sociais.
Entenda o caso
A polêmica começou quando Maurício fez uma publicação no Instagram criticando o anúncio da DC Comics de que o novo Superman, filho de Clark Kent e Lois Lane, é bissexual. “Ah é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar…”, comentou Maurício Souza, ao republicar a imagem de divulgação dos quadrinhos.
Após pressão dos patrocinadores, o Minas Clube decidiu demitir Maurício. “Não aceitamos manifestações homofóbicas, racistas ou qualquer manifestação que fira a lei. A agremiação salienta que as opiniões do jogador não representam as crenças da instituição sócio desportiva”, escreveu o time em nota.
Família Bolsonaro
Se por um lado Maurício foi condenado pelas publicações, por outro, recebeu bastante apoio, inclusive do presidente Jair Bolsonaro e dos filhos. “Impressionante, né? Tudo é homofobia, tudo é feminismo”, comentou o presidente em uma entrevista. Maurício Souza é um apoiador declarado de Bolsonaro e já foi recebido por ele no Palácio do Planalto.
Flávio Bolsonaro também defendeu Maurício. O senador afirmou que o jogador teria sido afastado “apenas por exercer o direito à liberdade de expressão”, e pediu que os seguidores boicotassem a Fiat e Gerdau, que ele classificou como “os responsáveis pela perseguição” ao atleta.
Na última quinta, 20 parlamentares representantes das causas LGBTQIA+ protocolaram no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) uma representação contra Maurício. Mas o jogador não se intimidou. Maurício fez durante a semana uma nova publicação com o Super Homem, mas dessa vez em uma imagem onde o herói aparece beijando a Mulher Maravilha.
Crime
A criminalização da homofobia e da transfobia foi permitida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em decisão de junho de 2019. Por 8 votos a 3, os ministros consideraram que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais passariam a ser enquadrados no crime de racismo.
A criminalização da homofobia e transfobia prevê que:
— “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime;
— a pena será de um a três anos, além de multa;
— se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a cinco anos, além de multa;
— e a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o tema.
Com a decisão do STF, o Brasil se tornou o 43º país a criminalizar a homofobia, segundo o relatório “Homofobia Patrocinada pelo Estado”, elaborado pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais (Ilga).
No julgamento de 2019, a Corte atendeu parcialmente a ações apresentadas pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT) e pelo partido Cidadania (antigo PPS). Essas ações pediam que o STF fixasse prazo para o Congresso aprovar uma lei sobre o tema, um ponto que não foi atendido na época.
Na ocasião, os ministros fizeram ressalvas sobre manifestações em templos religiosos. Segundo os votos apresentados:
— não será criminalizado: dizer em templo religioso que é contra relações homossexuais;
— será criminalizado: incitar ou induzir em templo religioso a discriminação ou o preconceito.