Dias após forçar um cessar-fogo entre Irã e Israel, colocando em suspenso um conflito que por pouco não arrastou todo o Oriente Médio, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que um acordo para a guerra na Faixa de Gaza “está muito perto”, algo corroborado por fontes do grupo terrorista Hamas.
A iminência de um acordo, contudo, ainda não produziu efeitos práticos: nesta quarta-feira (25), mais de 60 palestinos foram mortos em Gaza — na véspera, sete militares israelenses morreram em um ataque no enclave.
Pouco antes de uma cúpula da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, na Holanda, Trump afirmou que “grandes progressos estão sendo feitos em Gaza”, e que ouviu de seu enviado especial e negociador-chefe, Steve Witkoff, que um acerto estaria “muito perto”.
A jornalistas, o presidente associou o otimismo ao cessar-fogo anunciado na segunda-feira, interrompendo 12 dias de confronto entre Israel e Irã, e que contou com um ataque dos EUA a três instalações nucleares iranianas — Fordow, Natanz e Isfahã — no fim de semana. Até agora, as tentativas americanas para uma trégua no enclave fracassaram, e a recente iniciativa, em parceria com Israel, ligada à distribuição de alimentos em Gaza tem sido alvo de pesadas críticas, inclusive da ONU.
Segundo o Wall Street Journal, mediadores do Egito e Catar, que lideram as conversas, dizem que Israel e Hamas têm demonstrado maior interesse em avançar em termos aceitáveis para os dois lados, e o próprio Witkoff entrou em contato com os árabes para que intensificassem o diálogo. Uma nova reunião, afirmam os negociadores, poderia acontecer “em breve”, mas sem arriscar um prazo ou data específica.
Nesta quarta-feira, um integrante do Hamas disse à agência AFP que as conversas “se intensificaram nas horas recentes”, mas que “não foram recebidas novas propostas” para encerrar a guerra, iniciada após o ataque do grupo a Israel em 7 de outubro de 2023. Israel não se pronunciou.
A mais recente proposta não traz grandes mudanças em relação aos planos rejeitados nos últimos meses. O plano prevê um cessar-fogo preliminar de 60 dias, durante os quais serão libertados 10 reféns ainda vivos, assim como os corpos de alguns dos sequestrados que morreram no cativeiro em Gaza. Ao mesmo tempo, um número considerável de palestinos detidos por Israel seriam libertados. Após o período inicial, uma trégua mais ampla, com o retorno de todos os reféns, entraria em vigor.
Mas há questões sérias em aberto. O Hamas quer garantias de que as forças de Israel deixarão Gaza após a implementação do acordo e o fim do conflito, algo que ainda não está nos planos do premier Benjamin Netanyahu. Os israelenses, por sua vez, exigem o completo desarmamento do grupo, que perdeu a maior parte de suas lideranças políticas e militares, e teve suas capacidades de combate seriamente afetadas pela guerra. Neste contexto, o conflito com o Irã pode ter sido crucial para avançar em uma solução para Gaza.
Desde o início da guerra no enclave, Netanyahu se tornou um político impopular em Israel, sob pressão pela demora no retorno dos reféns capturados em outubro de 2023, pela extensão do conflito e também por seus problemas com a Justiça, que podem levá-lo à prisão. Ao mesmo tempo, a manutenção do conflito era crucial para manter unida sua coalizão, que tem na extrema direita as principais bases de sustentação.
Suspender os combates e soar flexível nas negociações com o Hamas poderiam custar ao premier seu cargo e uma dura derrota para a oposição em novas eleições. Sem contar uma condenação por corrupção, em um caso que se arrasta há anos nos tribunais.