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Ganha força a aposta em taxa básica de juros a 6% ou mais ao ano

O mercado correu para ajustar apostas em relação ao nível da Selic. (Foto: Marcello Casal/Agência Brasil)

Surpresas positivas na atividade econômica e pressões inflacionárias cada vez mais fortes no curto prazo consolidaram um cenário ainda mais agressivo quanto ao processo de normalização da política monetária. Não por acaso, o mercado correu para ajustar apostas em relação ao nível da Selic e cada vez mais agentes projetam que a taxa básica de juros encerrará o ano em 6% ou mais.

Em levantamento realizado pelo jornal Valor Econômico com 104 instituições financeiras e consultorias, apenas 30 esperam que a Selic termine o ano abaixo de 6%, enquanto 74 acreditam que a taxa chegará ao fim de dezembro entre 6% e 7%. Para efeito comparativo, na pesquisa realizada com 98 casas antes da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, somente 20 esperavam que o juro básico chegasse a pelo menos 6% no ano.

Já a decisão do Copom de semana que vem não deve trazer muitas surpresas. Depois de o colegiado já ter telegrafado que pretende efetuar uma nova elevação de 0,75 ponto percentual na Selic, o mercado acredita que a autoridade monetária irá seguir à risca o script e, das 104 instituições consultadas, 103 esperam que a Selic seja elevada dos atuais 3,5% para 4,25% na semana que vem. Somente uma casa espera um aumento maior.

Apesar do recente desempenho melhor do câmbio, vetores inflacionários externos e internos, que resultam em uma inflação corrente mais forte e na alta das expectativas são fatores que devem levar o Copom a elevar a Selic para 4,25% na semana que vem e a sinalizar uma nova alta de 0,75 ponto em agosto, na avaliação de Tatiana Pinheiro, sócia e economista-chefe da Panamby Capital.

“É verdade que os preços de commodities em real caíram um pouco, e muito mais por causa da apreciação do câmbio que por um recuo relevante das matérias-primas, mas ainda estamos falando de um dólar perto de R$ 5 — um nível historicamente alto que tende a pressionar a inflação”, explica. “Avaliamos, assim, que não há espaço para o BC reduzir o ritmo de elevações da Selic.”

Hoje, a Panamby projeta que a Selic encerrará 2021 a 6,5%, em trajetória que implica duas elevações de 0,75 ponto e, por fim, mais três de 0,5 ponto, o que significa uma normalização total da Selic. “Dado que o cenário de inflação está pressionado, faz sentido realizar o ajuste completo neste ano para minimizar a possibilidade de desancoragem da inflação do ano que vem”, diz a economista.

Para a economista-chefe da Canvas Capital, Camila de Faria Lima, a política monetária tem um papel “super importante” para fazer com que não haja efeitos de segunda ordem nas expectativas.

“Como o horizonte relevante para o BC é 2022 e as projeções estão subindo, mas de forma muito mais gradual quando se compara com as expectativas de 2021, existe uma discussão sobre desancoragem. Isso para mim não é desancoragem. Não acho que seja uma perda de controle.”

A Canvas trabalha com IPCA um pouco abaixo de 4% em 2022. “É um cenário complicado, mas não é uma perda de controle”, diz Camila. “Os IGPs estão subindo 40%. Quando eu penso nessa magnitude de alta, acho que a inflação ao consumidor está até bem comportada. Seria algo natural ter uma inflação um pouco acima de 3,5% no ano que vem, dada a magnitude dos choques”, afirma. Para ela, porém, “a essa altura, não dá mais para falar em inflação temporária”.

Na pesquisa também foram levantadas as projeções dos analistas para o IPCA neste ano e em 2022, já que o horizonte relevante da política monetária abarca, no momento, somente o próximo ano.

Assim como no Focus, também foi captado um maior distanciamento das expectativas de inflação de 2022 em relação ao centro da meta. Na pesquisa feita antes do Copom de maio, 54% das instituições projetavam o IPCA acima de 3,5% em 2022. Agora, 78% dos entrevistados têm expectativas de inflação mais altas que 3,5%.

O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, também se inclui nesse grupo, ao acreditar que o BC não irá fazer uma pausa no processo de elevação de juros. “A economia está bastante forte e a retomada está sendo robusta. Os dados de varejo desta semana mostram isso”, diz. Padovani lembra que, apesar da valorização recente do câmbio, há um cenário de pressão sobre o dólar mais à frente.

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