Feita nos dias em que a crise entre Jair Bolsonaro e Luiz Henrique Mandetta teve sua fase mais explícita, com as críticas públicas e pessoais do presidente ao ministro, a pesquisa Datafolha que mostrou uma disparada da aprovação popular à conduta do Ministério da Saúde no combate à pandemia é mais um elemento a sustentá-lo no governo. Ao mesmo tempo, esse protagonismo concorre para reforçar o incômodo de Bolsonaro com seu auxiliar, visto como “arrogante” pelo chefe.
Ainda mais quando aferidas num país de população tão grande e tão diversa nos níveis de renda, instrução e realidade de vida, pesquisas de opinião pública costumam ser muito influenciadas pela simbologia das ações e das imagens transmitidas pelos políticos. Na atual crise, os símbolos são eloquentes. Além das declarações na contramão das orientações globais, Bolsonaro por duas vezes jogou-se de corpo inteiro (nas manifestações do dia 15 e no passeio pelas ruas de Ceilândia no domingo) nos aglomerados contraindicados por médicos de todo o mundo.
Mandetta, por sua vez, aparece diariamente nas televisões no comando do combate ao contágio. Durante toda a última semana, vestindo um colete do SUS (Sistema Único de Saúde) ladeado por ministros engravatados — inclusive os militares. É, ironicamente, a imagem com que a narrativa bolsonarista almeja vestir o presidente: o trabalhador em distinção aos políticos.
Sem o contraste com a superaprovação de Mandetta, e considerada a chuva de críticas que vem recebendo, Bolsonaro mostra resiliência. A desaprovação à sua conduta na crise cresceu no limite da margem de erro, e a aprovação apenas oscilou para baixo. Parece estabilizado, mas um olhar comparativo com outros governantes mostra que o presidente desperdiça, por demérito próprio, uma chance de conquistar apoio popular. Governadores brasileiros e líderes de outros países vêm colhendo reconhecimento da opinião pública à dedicação ao combate ao vírus, como atestam diversas pesquisas.
No Datafolha, a pergunta é específica sobre a conduta do presidente na crise. E o perfil dos que o apoiam ou o desaprovam é bem diferente de quando comparados aos que avaliam sua gestão como um todo. Bolsonaro costuma ser forte, por exemplo, entre os brasileiros com curso superior. Mas neste estrato, teve 50% de avaliação ruim/péssimo na atual crise, bem acima da média geral (39%).
As faixas mais ricas foram até agora as mais diretamente afetadas pelo coronavírus. Mas os efeitos do baque na economia são sentidos primeiro pelos mais pobres, o que pode ajudar a explicar uma aceitação comparativamente maior do discurso adotado pelo presidente. Em condições “normais”, ele tem nesta faixa suas piores avaliações.
As informações são do jornal O Globo.

