Ícone do site Jornal O Sul

Argentina tenta atrair brasileiros de volta ao país após queda acentuada no turismo

O governo do libertário Javier Milei está tentando reverter um efeito colateral da política de ajuste fiscal na Argentina: a queda drástica de turistas. (Foto: Reprodução)

O governo do libertário Javier Milei está tentando reverter um efeito colateral da política de ajuste fiscal na Argentina: a queda drástica de turistas, especialmente brasileiros. O secretário de Turismo argentino, o ex-vice-presidente kirchnerista Daniel Scioli, veio a São Paulo com o objetivo de impulsionar a ida de brasileiros ao país vizinho neste inverno por meio de um pacote de incentivos. Mas o país mira um turismo “mais exigente”, em suas palavras.

Quando Milei assumiu o governo, em dezembro de 2023, a Argentina vivia uma tendência de mais turistas visitando o país atraídos pelo peso desvalorizado e pela existência de um câmbio paralelo vantajoso a quem recebia em reais, dólar e euro.

A partir de janeiro de 2024, quando o libertário lançou o decreto de desregulamentação e mandou seu pacote econômico para o Congresso, a tendência se inverteu.

Só em maio deste ano, último mês com dados disponíveis, mais de 315 mil turistas visitaram a Argentina, uma queda de 10% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Ao mesmo tempo, mais de 752 mil argentinos cruzaram a fronteira para os países vizinhos, 93% deles em direção ao Brasil.

O turismo de argentinos para fora do país cresceu quase 49% de um maio a outro. O verão deste ano registrou um recorde de argentinos deixando o país: quase 2 milhões. A maioria para as praias brasileiras.

De janeiro a maio, quase 7 milhões de argentinos viajaram ao exterior, um recorde em mais de uma década, enquanto menos de 2,4 milhões de estrangeiros entraram no país como turistas.

É comum a balança pender para a saída na época de férias, mas dessa vez o chamado déficit turístico se manteve mesmo na baixa temporada, quando a Argentina historicamente se beneficiava de mais entrada, especialmente para a Patagônia no inverno.

O professor de economia da UBA (Universidade de Buenos Aires) Fabio Rodriguez explica a causa do que chamou de “avalanche” de argentinos saindo: “Nos tornamos uma Argentina muito cara em dólares e em pesos também. É muito caro gastar na Argentina e é barato ou relativamente barato gastar em vários outros países que também são destinos turísticos atraentes e competem com os pontos fortes do turismo argentino”.

O governo de Javier Milei agora tenta reverter esse cenário e, segundo Scioli, a intenção é atrair um perfil diferente de turista. “Antes, víamos na fronteira brasileiros atravessando para o lado argentino, compravam seis garrafas de vinho e voltavam para o Brasil. Esse turismo especulativo, de oportunidades fictícias, hoje não está acontecendo, mas sim um turismo muito mais importante, mais sólido, mais dourado”, afirmou Scioli durante uma apresentação para empresários do setor turístico, jornalistas e influencers de viagem em São Paulo no dia 2 de julho.

“Estamos vendo, por exemplo, a chegada de mais turistas americanos. Os Estados Unidos são o primeiro país do mundo de onde vêm turistas para a cidade de Buenos Aires, pela primeira vez. O turista americano é um turista exigente, que fica muito tempo lá, consome mais”, completa o secretário.

Mas uma troca não compensa a outra, explica Rodriguez, professor. Mesmo com os turistas em viagem à Argentina gastando mais do que os de antigamente, o montante gasto não compensa o déficit de pessoas.

Os argentinos apresentaram uma oferta de produtos e destinos, com foco especial na gastronomia, vinhos e atividades de inverno. O executivo da estatal Aerolíneas Argentina lançou um pacote exclusivo de promoções para quem comprar passagens este mês e viajar de agosto até novembro. “Por exemplo, o cliente pode escolher um voo direto de São Paulo a Buenos Aires por US$ 160 e adicionar uma rota até Córdoba por mais US$ 50 dólares”, explicou Iván Blanco Cadahia.

Ele argumenta que a ação é um trabalho conjunto com o governo, para atuar em duas frentes: o setor turístico, com promoções e pacotes atraentes para turistas estrangeiros, e a comunicação das medidas por parte do governo. Antes de São Paulo, os argentinos estiveram no Uruguai para fazer o mesmo.

No entanto, não são apenas os preços das passagens aéreas que afastam os turistas estrangeiros, mas o custo dentro da Argentina. Com a valorização do peso, o país deixou de ser o “paraíso turístico” dos últimos anos. Os preços na Argentina mais do que dobraram em um ano por causa das políticas de contenção da inflação.

Embora esteja caro também para os argentinos, os salários locais vêm sendo ajustados de forma a acompanhar a flutuação. O mesmo não acontece com os estrangeiros. Quem visitava o país em busca de boas carnes, vinhos e doce de leite com baixos preços, agora se assusta com os valores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Sair da versão mobile