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Armas X Livros

Um argumento comum a favor das políticas de armamento como de Bolsonaro, é o de que a população desarmada não tem como se opor à ditadura. (Foto: Fernando Frazão/ABr)

Um argumento comum a favor das políticas de armamento como de Bolsonaro, é o de que a população desarmada não tem como se opor à ditadura. É uma completa falácia. Pessoas honestas, de boa-fé, abraçam a teoria e a reproduzem sem refletir.

Costumam citar Cuba, Coreia do Norte e Venezuela, dando a entender que se os cidadãos tivessem armas, poderiam se opor à instalação da ditadura naqueles países. É uma afirmação solta, estranha aos fatos, que não tem como ser evidenciada – um palpite rebuscado, engenhoso de justificar a política de armamento, destituído de qualquer fundamento.

Nas ditaduras as armas são simplesmente confiscadas da população civil. O cidadão está proibido se possuí-las, mas não o grupo do poder, os aliados e seguidores do regime.

Nas democracias, certos governos (poucos) fazem campanhas de desarmamento voluntário, com base em razões e argumentos de sensatez e responsabilidade. Entrega as armas quem quer. A posse de armas é regulada dentro de certos limites e condicionada às normativas legais, exigências que visam coibir o seu uso irresponsável ou descuidado.

Quanto mais os cidadãos honestos tenham armas em casa, mais elas serão procuradas pela bandidagem – são ferramentas básicas do “ofício”. O meliante que invadir uma casa cujo proprietário tenha seis armas, como estipulou Bolsonaro, ficará tão feliz quanto encontrar joias e dinheiro.

Mas a posse de armas como um fator de defesa da democracia contra a tirania é um argumento que se torna completamente falso pela razão simples de que o cidadão portador tanto pode usá-las para defender a democracia, como para apoiar a ditadura. Desconfio que um cidadão armado até os dentes, com seis armas, está mais para a guerra do que para a paz, mais para a ditadura do que para a democracia.

Possuir armas, defender a sua posse, corresponde a uma certa visão de mundo. Ter armas ou não ter não faz, necessariamente, ninguém mais virtuoso. Mas me atrevo a dizer que se alguém não tem armas em casa, nem deseja possuí-las, e se no lugar delas tiver livros e discos, essa pessoa tende a ser mais cooperativa, mais humana, mais compassiva – tende a conviver melhor no lar e no contexto dos seus vizinhos e de sua comunidade.

É uma lenda perigosa achar que armas são instrumentos de defesa contra o crime. A bandidagem sabe manejá-las, está acostumada ao seu uso, têm mais pontaria do que um usuário eventual. Levam a vantagem nada desprezível da surpresa. Cometem seus crimes quase sempre sob a ação de drogas – desprezam os riscos porque dão pouco valor à vida dos outros e da sua própria.

Seria melhor ter um presidente que incentivasse a leitura, a compra de livros, não de munição e revólveres. Armas são instrumento de ataque, violência e morte. Armas não ensinam nada e não melhoram a vida de ninguém.

Mas porque Bolsonaro faria isso, incentivar a leitura, os livros, se ele mesmo não lê? Se ele, na sua mesa de cabeceira tem uma arma carregada (como ele mesmo confessou) e não um livro, como fazem as pessoas de espírito elevado e de boa índole?

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