Ícone do site Jornal O Sul

As companhias aéreas devem oferecer tarifas mais baixas no Brasil em 2020

Elevação nos preços ajudou as empresas a melhorarem os seus faturamentos. (Foto: EBC)

Depois de um ano com resultados, favorecidos pela alta dos preços das passagens em um cenário no qual a saída da Avianca representou uma concorrente a menos no mercado, em 2020 as companhias aéreas devem oferecer tarifas mais baixas no Brasil, mesmo assim com resultados positivos.

Fatores como esse, aliados à redução na oferta de voos, o preço médio para um voo doméstico passou de R$ 367 nos nove primeiros meses de 2018 para R$ 410 no mesmo período do ano passado, o que representa uma alta de 11,8%. Se descontada a inflação, esse foi o maior aumento real para o período desde pelo menos 2012, segundo a Anac (Agência Nacional da Aviação Civil).

A elevação nos preços ajudou as empresas a melhorarem seus resultados financeiros, que vinham muito fracos desde o início da crise brasileira.

Entre janeiro e setembro de 2019, a Azul, por exemplo, viu sua receita líquida crescer 24,1%. Já na Gol, a alta foi de 22,5%. Como a Latam opera em diferentes países da América do Sul, não divulga o faturamento apenas do Brasil e informa apenas a receita brasileira por assento e quilômetro voado. Nesse caso, houve um aumento de 24,3% no terceiro trimestre de 2019.

Apesar da melhora na receita, as empresas reclamam que a alta dos custos prejudicará o resultado final. “Seria um bom ano [2019] se os custos não tivessem aumentado”, explica diz Paulo Kakinoff, presidente da Gol. “O câmbio e a indústria da judicialização, com aplicativos (que ajudam o consumidor a processar empresas aéreas por causa de atrasos, por exemplos), pressionam.”

“A questão do 737-MAX (aeronave da norte-americana Boeing que está proibida de voar após dois acidentes no ano passado que mataram centenas de pessoas) também afetará o resultado negativamente”, acrescenta o executivo. A Gol tem sete aviões 737-MAX em sua frota e espera a entrega de outros 16 ao longo deste ano.

Kakinoff admite, porém, que há uma recuperação do setor em andamento. Ele acredita que a demanda doméstica deve ter finalizado 2019 com uma alta de até 2% e projeta para 2020 um incremento entre 6% e 9%. “Será provavelmente o maior crescimento desde 2010”.

O presidente da Gol diz ainda que há um certo otimismo com a recuperação do setor corporativo, que compra passagens em cima da hora e, portanto, mais caras. “Vimos uma retomada desse segmento no primeiro trimestre de 2019, mas ela perdeu força no segundo trimestre. Agora a expectativa é forte”.

Ampliação

Em meio ao processo de recuperação do setor, as companhias estão aumentando o número de voos. A Azul, que ampliou a oferta em cerca de 20% no ano passado, deve manter essa taxa em 2020. A Gol pretende acompanhar a demanda e aumentar a oferta entre 6% e 9% – número semelhante ao da Latam.

Com maior oferta, é possível que os preços das passagens caiam. O presidente da Azul, John Rodgerson, afirma que a redução pode ser entre 2% e 3%, dependendo da demanda. Segundo a Latam, porém, é difícil estimar as tarifas, pois uma mudança brusca no câmbio, por exemplo, pode pressionar o setor. Já Kakinoff lembra que as passagens já estão se reacomodando e voltando ao patamar anterior à quebra da Avianca.

Dados da Anac indicam, no entanto, que ainda não houve uma retração de preços pelo menos até setembro. O que tem ocorrido são aumentos mais discretos. Nos 12 meses encerrados em setembro, as tarifas subiram 3,2%, enquanto nos 12 meses encerrados em junho, a alta havia sido de 34,6%.

Ainda que uma redução no preço das passagens se confirme, o movimento não deve afetar o lucro em 2020, segundo Rodgerson: “Estamos renovando a frota e recebendo aeronaves mais econômicas, isso vai ajudar a manter as margens”.

Faturamento

Estimativas da Iata Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) apontam que as companhias aéreas da América Latina deverão ter um lucro de US$ 100 milhões em 2020, puxado por Brasil e México.

No ano passado, as empresas da região tiveram prejuízo de US$ 400 milhões, ainda segundo projeção da organização – não há dados exclusivos para as empresas brasileiras. “A expectativa para 2020 é muito melhor que a de 2019 no setor de viagens corporativas e apostamos num resultado positivo para as aéreas”, diz o diretor da Iata no Brasil, Dany Oliveira.

Especialista no mercado de aviação, o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company, afirma esperar uma queda nas tarifas aéreas, mas também prevê um ano de crescimento para as companhias: “O setor tem sua demanda ligada ao crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] e do investimento. Como o crescimento deve ser maior em 2020, esperamos alta na demanda”.

Sair da versão mobile