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A ascensão de Fernando Haddad polariza a campanha eleitoral e dificulta para os candidatos de centro, dizem especialistas

Segundo o Ibope, Fernando Haddad avançou em todos os segmentos, sobretudo entre os nordestinos e os mais pobres. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Com a rápida ascensão de Fernando Haddad (PT) e a manutenção de Jair Bolsonaro (PSL) em um patamar elevado, evidenciadas pela última pesquisa Ibope, a corrida eleitoral caminhou, pela primeira vez, para um afunilamento que não era esperado antes do segundo turno. Apenas uma semana depois de oficializado, o candidato petista mostrou eficiência em receber a transferência de votos de Lula. Já o deputado fluminense não parou num teto, e continua crescendo, mesmo que timidamente. Diante desse cenário, cientistas políticos analisam que o pleito está cada vez mais polarizado, o que dificulta o posicionamento de candidatos de centro. A pedido do jornal O Globo, os especialistas traçaram pontos fortes e fracos de cada um dos principais presidenciáveis.

Na pesquisa Ibope divulgada na terça-feira, Fernando Haddad avançou em todos os segmentos, sobretudo entre os nordestinos e os mais pobres. O ex-prefeito de São Paulo, que só foi oficializado candidato no último dia 11, saltou de 4% para 19% em menos de um mês. Já Bolsonaro manteve a liderança, com 28%, e continuou a crescer na faixa dos eleitores mais ricos, com salário acima de cinco salários mínimos. Em seguida, estão Ciro Gomes (11%), Geraldo Alckmin (7%) e Marina Silva (6%).

O apoio de Lula é o principal ativo e passivo de Haddad, analisa o professor da UERJ e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, Geraldo Tadeu Monteiro. “Ao mesmo tempo que ele recebe votos, sua rejeição aumenta”, afirma o cientista político. “Ele teve um crescimento espetacular, de 375% (indo de 4 a 19%), mas sua rejeição cresceu 81% (de 16 a 29%).”

Para Monteiro, Haddad vai conseguir ser forte onde Lula tem maior aprovação, e terá dificuldades nas regiões Sul e Centro-Oeste. Já o Sudeste promete ser equilibrado, como foram nas últimas eleições, nas disputas entre PT e PSDB. O professor, porém, acredita que ele deve continuar crescendo à esquerda, então se mostra cético em relação a uma possível estratégia moderada, como sinalizou nos últimos dias, a fim de captar o eleitor de centro.

“Ele cresceu na oposição ao Bolsonaro e pela identificação com o Lula. No primeiro turno acho arriscado ele acenar para o centro, ele está crescendo pela esquerda. Tem volume suficiente para chegar no 2º turno. Pela polarização que se mostra, acho difícil ele captar votos do centro agora, o que vamos ver depois é uma disputa por esse espólio do centro”, explica Monteiro, que não viu Haddad pegando votos do centro para subir tanto, mas sim de brancos e nulos. “O número de brancos e nulos diminuiu 15% no mesmo período em que ele cresceu 15%. Isso pode explicar seu crescimento tão acelerado, já que os outros candidatos praticamente estagnaram. Sei que o voto nulo é o mais difícil de ser mudado, mas me pareceu que foi um fluxo de eleitores que se frustaram com a barração do Lula, então num primeiro momento ficaram sem escolha, mas assim que Haddad se oficializou, migrou para ele.”

Para Murillo de Aragão, analista político da Arko Advice, os pontos fortes de Haddad são o apoio do Lula, recursos financeiros, estrutura partidária e palanques fortes em estados importantes.

Em uma eleição cada vez mais polarizada, os candidatos mais ao centro encontram dificuldades em se posicionar, analisam os cientistas políticos. A queda mais acentuada foi a de Marina Silva, que figura com apenas 6% na última pesquisa Ibope. Para Murillo de Aragão, o eleitor, na conjuntura atual, prefere um candidato “para dar carrinho”, numa metáfora futebolística.

“Marina tem evidentes qualidades, agora ela não tem estrutura e não tem narrativa para esse momento. Ciro é assertivo e propositivo. Hoje o eleitor quer alguém para dar carrinho, nao alguém com falta de firmeza, o que afeta o Alckmin também. Marina é quase café com leite para eleição. Gatinho que não morde. Ela quer ser ungida presidente, pelo seu bom mocismo, intenções legais, mas o jogo não é assim.”

Monteiro complementa: “A queda dela foi uma pedra cantada. Ela sai com um recall, já disputou duas eleições, com votação boa. Mas cai por falta de estrutura. Ela não tem coligação, tempo de TV, e está num partido fraco. Ela mantém imagem de pessoa ética, correta, mas é uma eterna promessa. Como vivemos tempos de polarização, quem tem postura de centro tem dificuldade de se posicionar. É o perfil do Alckmin também. A conjuntura não é favorável a ela.”

Já Alckmin e, principalmente, Ciro Gomes, são candidatos que ainda têm maior margem de crescimento, avaliam os professores. Monteiro destacou que o pedetista é quem mais reúne potencial de voto, pois a soma de quem respondeu que vota nele e considera votar nele chegou a 46%.

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