Ícone do site Jornal O Sul

Os ataques de Flávio Bolsonaro ao Ministério Público e ao Coaf irritam e estimulam uma reação nos órgãos

Filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro recebeu quase 50 depósitos em dinheiro vivo em um mês. (Foto: Reprodução/TV)

Os argumentos usados pela defesa de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) para travar a investigação sobre a conta suspeita de Fabrício Queiroz irritaram técnicos do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e integrantes do MP (Ministério Público). Internamente, procuradores e promotores repudiaram o ataque ao trabalho dos colegas do Rio. No Coaf, hoje sob a guarda do ministro Sérgio Moro (Justiça), houve protesto à alegação de que dados foram repassados de forma ilegal. A estratégia do filho do presidente acionou o espírito de corpo dos órgãos.

Membros do Ministério Público e do Coaf rebateram a alegação de que o conselho não poderia ter repassado informações aos promotores sem ordem judicial. Procuradores dizem que a lei que trata do crime de lavagem de dinheiro exige que instituições financeiras informem movimentação atípica ao Coaf e que o órgão, por sua vez, relate os casos ao Ministério Público.

Críticos entoaram um sonoro “eu avisei”

Ao optar por atacar os investigadores, Flávio acabou cometendo novo erro estratégico. Os defensores do clã Bolsonaro no Ministério Público se calaram nas redes internas. Os críticos entoaram um sonoro “eu avisei”.

Após a revelação no Jornal Nacional de que o filho mais velho do presidente recebeu quase 50 depósitos em dinheiro vivo em um mês, imperou o silêncio no grupo de WhatsApp do PSL. Deputados da sigla perceberam uma guinada nas redes sociais. Nos últimos dias, houve aumento da cobrança sobre a investigação.

O documento traz informações sobre movimentações financeiras de Flávio Bolsonaro entre junho e julho de 2017. São 48 depósitos em espécie na conta do senador eleito, concentrados no autoatendimento da agência bancária que fica dentro da Assembleia Legistativa do Rio, e sempre no mesmo valor: R$ 2 mil.

O Coaf diz que não foi possível identificar quem fez os depósitos. O relatório afirma que o fato de terem sido feitos de forma fracionada desperta a suspeita de ocultação da origem do dinheiro. A classificação do Coaf é feita com base numa circular do Banco Central que trata de lavagem de dinheiro.

No caso de Flávio, foi citada a realização de operações que por sua habitualidade, valor e forma configuram artifício para burla da identificação dos responsáveis ou dos beneficiários finais. O documento, obtido com fontes da equipe de reportagem do Jornal Nacional, está identificado como “item 4” e faz parte de um relatório de inteligência financeira.

O Ministério Público nega que tenha havido quebra do sigilo e diz que as investigações, decorrentes de movimentações financeiras atípicas de agentes políticos e servidores, podem desdobrar-se em procedimentos cíveis para apurar a prática de atos de improbidade administrativa e procedimentos criminais.

Sair da versão mobile