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Ataque nos Estados Unidos: até os pais de autor de chacina são condenados à prisão; entenda

James e Jennifer Crumbley são os pais do atirador da escola de Oxford, no Michigan. (Foto: Reprodução)

James e Jennifer Crumbley, os pais do atirador da escola de Oxford, no Michigan (EUA), foram sentenciados a até 15 anos de prisão nessa terça-feira (9). Ambos foram condenados por homicídio culposo em julgamentos separados. A decisão encerra um caso criminal histórico nos Estados Unidos e que tem envolvido a comunidade local desde 2021, quando o filho do casal, um adolescente de 15 anos à época, levou uma arma para a escola e matou quatro estudantes.

Os promotores pediram, nos memorandos da sentença apresentados ao tribunal na última semana, que os Crumbley cumpram ao menos 10 anos de prisão cada um. Incapazes de pagar a fiança de US$ 1 milhão (R$ 5 milhões, na cotação atual), eles aguardaram o julgamento na cadeia por mais de dois anos – e agora receberão crédito pelo tempo cumprido. Já Ethan Crumbley, o menor que cometeu o crime, foi julgado como adulto e condenado à prisão perpétua sem liberdade condicional em 2023.

“Não vou fingir que entendo a dor que eles (os pais) estão sentindo, mas vi o que vocês viram e ouvi o que vocês ouviram. Essas condenações não se tratam de má paternidade. Elas se referem a atos que poderiam ter parado um trem desgovernado”, disse a juíza Cheryl Matthews antes de proferir a sentença e se dirigir aos Crumbley: “Houve acesso irrestrito a uma arma de fogo e munição. Vocês glorificaram o uso dessas armas.”

Nos dois julgamentos, os promotores acusaram o casal de ignorar os sinais de alerta sobre o perigo potencial que Ethan representava. Eles também foram apontados como negligentes por permitir que o menor tivesse uma arma, comprada apenas dias antes do crime. Os pais do adolescente foram considerados culpados de quatro acusações de homicídio culposo, uma para cada estudante que Ethan assassinou.

Os julgamentos dos Crumbley tornaram-se um ponto focal para questões de responsabilidade parental em um momento de alta visibilidade da violência armada por menores de idade nos EUA. Nos últimos meses, pais em outros estados se declararam culpados por conduta imprudente ou negligência após seus filhos terem ferido ou matado outros com armas de fogo. As acusações de homicídio culposo contra os Crumbley, porém, não tinham precedentes. Para especialistas, estas condenações servirão como um guia para responsabilizar os pais no futuro.

“Eles optaram por ficar em silêncio”, disse Steve, pai de Hana, estudante de 14 anos morta no ataque. “Eles optaram por ignorar os sinais de alerta. E agora, como ouvimos com todas as objeções, eles continuam escolhendo culpar todos, menos a si mesmos.”

Entenda o caso

Ethan Crumbley tinha 15 anos quando, em novembro de 2021, matou os estudantes Tate Myre, 16 anos; Hana St Juliana, 14; Madisyn Baldwin, 17, e Justin Shilling, 17, com uma pistola semiautomática na Oxford High School. Outras sete pessoas ficaram gravemente feridas após o ocorrido, entre elas uma professora. O tiroteio ocorreu por volta de 12h51 no horário local (13h51 em Brasília). Pouco depois, as autoridades registraram mais de 100 chamadas de emergência.

Segundo a promotora responsável pelo caso, um professor alegou ter observado que o jovem procurava munições na internet dias antes do crime. Segundo ela, os funcionários da escola chegaram a receber o alerta e tentaram entrar em contato com a mãe do menino, mas sem sucesso. Jennifer não retornou o contato da escola, mas, segundo a NBC News, teria enviado uma mensagem ao filho que dizia: “Não estou brava com você. Você precisa aprender a não ser pego”.

Outro professor teria alertado os funcionários da escola sobre um desenho encontrado na mesa do adolescente antes do tiroteio. Nele havia uma arma apontada para a frase: “Os pensamentos não param, me ajude”. Os pais de Ethan foram imediatamente convocados na escola, mas resistiram em levar o menino para casa, optando, em vez disso, por ir trabalhar. Mais tarde, funcionários da escola o mandaram de volta para a aula sem verificar sua mochila, que continha a arma.

Ainda conforme a promotora, após a notícia de que havia um atirador na escola, Jennifer enviou uma mensagem ao filho em que dizia: “Ethan, não faça isso”. Minutos depois, o pai dele disse ter sentido falta da arma que ficava em sua gaveta e entrou em contato com a polícia para comunicar que o filho poderia ter cometido o crime. O xerife do condado, porém, alegou que os Crumbley não cooperaram com as autoridades e não deram permissão para que Ethan conversasse com os investigadores, procedimento exigido em crimes cometidos por menores no Michigan.

Os pais de Ethan foram acusados de homicídio culposo em dezembro do mesmo ano. Para a promotora, embora tenha sido “o atirador quem entrou na escola e puxou o gatilho”, há “outros indivíduos que contribuíram para os acontecimentos”. As informações são dos jornais O Globo e The New York Times.

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