Em uma audiência pública que durou cerca de quatro horas e meia sobre a vacinação de crianças contra a covid-19, o Ministério da Saúde ouviu representantes de entidades científicas e defensores da vacina pediátrica, além de médicos contrários que já espalharam informações falsas sobre a doença.
O evento não teve a participação de representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizou a imunização infantil no mês passado.
Durante o evento, entidades médicas e de sociedades científicas apoiaram a vacinação, mostrando dados e estudos. Renato Kfouri, representante da Associação Médica Brasileira (AMB), chamou a atenção para a importância de não se aderir a “teorias da conspiração”.
Segundo ele, os autores dessas falsas informações “agem de má-fé”. “Querem colocar em risco a vida de nossos filhos”, afirmou.
Em transmissão ao vivo em sua rede social no começo da audiência, a deputada Bia Kicis relatou ter convidado os médicos Roberto Zeballos, José Augusto Nasser e Roberta Lacerda, contrários à imunização de crianças e a favor do uso de cloroquina, para falar no encontro.
Em agosto, o Projeto Comprova (que verifica a veracidade de informações que circulam nas redes sociais) mostrou que Zeballos fez várias afirmações incorretas sobre a covid-19 em vídeo no Instagram. Na ocasião, ele minimizou a importância da variante Delta ao escrever que ela era “pouco agressiva”.
Também errou ao dizer que as vacinas disponíveis até aquele momento não funcionavam contra a delta. Na audiência, Zeballos referiu-se à vacina como “emergencial”, ignorando o fato de que a Pfizer tem o registro definitivo. O médico pediu ainda respeito à “ciência da observação”.
Em outra checagem, o Projeto Comprova também apontou que a médica Roberta Lacerda tirou dados de hospital israelense de contexto ao acusar o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA de mentir sobre infecções em não vacinados. A postagem circulou em agosto do ano passado.
Enquete
No início da audiência, a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite de Melo, afirmou que a maioria das pessoas que participaram da consulta pública sobre vacinação de crianças é contrária à obrigatoriedade de prescrição médica para a imunização, o que vinha sendo defendido pela gestão Bolsonaro.
A enquete também mostrou que a maior parte dos participantes é contrária a que a vacina seja compulsória nesse público. De acordo com a secretária, 99.309 pessoas participaram da consulta.
