Novas quatro vítimas denunciaram o cirurgião Bolivar Guerrero na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), em Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense, nesta quarta-feira (20). Ao todo, nove mulheres já prestaram depoimento contra o médico que foi preso na última segunda-feira (18) sob acusação de manter uma paciente em cárcere privado.
Uma delas, a autônoma Gedália Rocha, 57 anos, contou que realizou duas cirurgias com o médico, uma abdominoplastia e uma colocação de prótese nos seios, mas que não teve resultado positivo em nenhuma.
“Eu encontrei ele através da internet, ele fazia uma propaganda danada, a primeira coisa que fiz foi uma abdominoplastia, que não ficou boa, ficou torta, mas ele falou que isso acontece, e que era pra eu voltar 30 dias depois pra consertar e fazer o seio, operei no sábado, ele me deu alta domingo, quando foi na terça liguei e falei que meu seio tava ficando escuro, mas aí ele não respondia mais, e o meu seio foi dando pus, dando necrose, afundou uma parte do peito”, contou.
Segundo Gedália, ela fez as cirurgias em 2018, e não conseguiu reparar os procedimentos desde então. Ela explicou ainda porque não realizou um registro de ocorrência anteriormente.
“Quando voltei lá pra reparar, ele me cobrou R$ 6 mil e eu não tinha, porque já tinha pago quase R$ 14 mil nas cirurgias, já tinha pego dinheiro emprestado, cartão de crédito e a gente que é pobre paga com muito sacrifício, porque é o sonho da gente. Eu procurei advogado antes, ele me pediu prova, mas eu não tinha, porque todos os documentos ficam com o médico e na clínica, e aí o advogado não pegou o caso, mas hoje como as mulheres estão vindo, eu tomei coragem e vim também, porque só tenho como provar na foto e mostrar se alguém quiser ver”, explicou.
A vítima ainda relatou que após os procedimentos cirúrgicos terem dado errado ela vem enfrentando problemas com sua autoestima. “Eu só quero corrigir isso, minha autoestima caiu, eu não vou à praia porque se for colocar um biquíni que não tenha bojo, aparece. Meu conselho é que as outras mulheres que queiram operar procure um cirurgião decente, que não vá pela internet”, finalizou.
Outra vítima, é uma aposentada, 54 anos, que preferiu não se identificar por medo de represálias. Ela conta que realizou três cirurgias com o médico em 2020, sendo abdominoplastia, mama e lipo.
“Eu operei, logo depois que voltei pra tirar o dreno, ficou tudo inchado, estava feio, aí ele fez um reparo, porque ele tinha feito uma cirurgia por cima de uma cesariana que eu tinha e ficou caído, quando voltei pra tirar os pontos, um outro problema foi que um lado do meu peito estava maior e outro menor, voltei lá de novo, fiquei com cicatrizes horríveis, um sonho que se tornou pesadelo. Eu ainda paguei para fazer um novo reparo em dezembro deste ano, uma terceira reparação, eu resolvi dar queixa depois que eu vi o caso na televisão”, contou.
A aposentada ainda fez um apelo, e espera que todas as pacientes sejam ressarcidas pelo cirurgião.
“Queria que ele desse apoio, que tivéssemos um apoio de um psicólogo, um advogado, porque não foi nada de graça, foi pago com muito sacrifício, eu peguei empréstimo pra fazer o que estou pagando até hoje, sinto falta de ajuda, um advogado que possa nos acolher. Eu ouvi dentro da clínica o pessoal falando que ele tem dinheiro pra se cobrir de outro, a gente precisa ser ressarcida, que seja feita uma correção, não por ele, mas por alguém que pudesse nos ajudar a corrigir porque eu não posso ficar assim, eu sinto muitas dores, tem dia que nem consigo dormir”, lamentou.
O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decretou, na tarde desta quarta-feira, o bloqueio de R$ 198 mil dos bens do médico Bolivar Guerrero Silva, de 63 anos, preso por manter uma paciente em cárcere privado, e do Hospital Santa Branca. Segundo a decisão, o valor será usado para pagar a transferência da paciente Daiana Cavalcanti, de 36 anos, para um outro hospital particular. Segundo a conclusão do inquérito da Polícia Civil, a vítima está “apodrecendo na unidade”.
Daiana se internou no início de junho para fazer procedimentos estéticos com o cirurgião plástico Bolivar Guerrero Silva, mas alega que a cirurgia abdominal não obteve o resultado esperado e que continuava com feridas abertas. Ela chegou a alegar estar em situação de “cárcere privado”, pois estaria sendo impedida de sair do hospital. As informações são do jornal O Dia.