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Banco Mundial não consegue prever quando ocorrerá o fim da recessão no Brasil

Augusto de La Torre, economista do Banco Mundial. (Foto: Divulgação)

Augusto de La Torre, economista do Banco Mundial para a América Latina, afirmou em um evento na manhã desta terça-feira em Washington (EUA) que a demora do Brasil em fazer seu ajuste fiscal agora pode levar o país a ter de fazer uma reforma ainda mais profunda no futuro. Ele falou que, apesar de o Brasil ter sido o país que mais trouxe benefícios aos pobres durante o ciclo de bonança da década passada, foi o que mais sofreu com a valorização cambial e isso limita a reação atual à crise econômica.

“Agora, o Brasil vive uma transação que não é só econômica, mas também passa por um debate intenso politico, questões de escândalos que são complicados. Agora, os problemas econômicos interagem com questões políticas e até judiciais. Isso pode ser necessário para se oxigenar a democracia brasileira, mas amplia as incertezas que afetam os investimentos no curto prazo e deixa mais difícil as conversas sobre os desequilíbrios fiscais, que podem ser ainda maiores no futuro”, disse De La Torre no evento do Banco Mundial que faz parte da reunião de primavera (no Hemisfério Norte) da instituição e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

De La Torre disse que não é possível prever exatamente quando a recessão acabará no Brasil, pois não é fácil prever quando o investimento voltará ao País. O banco estima para este ano uma recessão de 3,5%. Ele afirmou que o país tem taxas de juros muito altas e que isso indica que há riscos muitos altos.

“É claro que este problema político afeta os investimentos. Não posso fazer previsão disso porque se trata de fatores internos, mas tudo o que acontece no mundo político está afetando a confiança e os investimentos” disse o economista.

Ele lembrou que a recessão no Brasil afeta os países do Cone Sul – Argentina, Uruguai e Paraguai – por causa do forte comércio com as nações vizinhas e toda a região de forma psicológica, pois o temor de problemas no Brasil gera uma imagem ruim para todo o continente: “Quando há perspectiva negativa para o Brasil se estende uma nuvem sobre toda a região”.

O economista lembrou que a América Latina, como um todo, vive o quinto ano seguido de desaceleração econômica, sendo o segundo em recessão. Mas ele afirma que a América Latina está vendo uma bifurcação: o continente mais ao norte está crescendo, no rastro da recuperação econômica dos Estados Unidos, enquanto o Sul sofre e tem recessão por causa da queda do preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional, como soja, minério de ferro e petróleo) e com a desaceleração da China.

“A América do Sul dança de acordo com o ritmo que o preços das commodities impõe”, disse De La Torre, afirmando que o ajuste tem sido mais lento e doloroso que o esperado.

Ele disse que os países da região vivem verdadeiros dilemas, como ter de fazer um ajuste fiscal para compensar a queda de arrecadação causada com a redução dos preços das commodities, enquanto tenta manter ou aumentar o investimento para incentivar a economia. Quer manter taxas de juros baixas para servir de estímulo, mas também precisam enfrentar a alta da inflação e que o melhor remédio é a política de juros. Quer manter programas sociais e salários altos, mas o desemprego cresce. (Henrique Gomes Batista/AG)

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