Exagerar na bebida e descuidar da hidratação não traz bons resultados. E com a chegada do Natal e do Ano Novo, especialistas alertam para cuidados com bebidas e comidas para evitar mal-estar, ressaca e até intoxicações.
Regadas a vinho, champanhe e cerveja, além de pratos gordurosos como salpicão, salada de maionese e peru, as celebrações de fim de ano costumam deixar muita gente enfadada, inchada, sonolenta, enjoada e até um pouco bêbada no dia seguinte. A ressaca ainda pode apresentar dor de cabeça, tontura e desidratação decorrentes do acúmulo de substâncias tóxicas no corpo.
Para minimizar esses efeitos, o emergencista do Hospital Regional de Varginha (MG) Yuri Castro Santos recomenda moderação no álcool e reforço na hidratação. Segundo ele, beber água antes, durante e depois das comemorações faz diferença. A gastroenterologista Vanessa Prado, do Hospital Nove de Julho, orienta ingerir cerca de um litro de água a mais que o habitual.
O álcool provoca desidratação devido ao efeito diurético — a pessoa urina mais e perde líquido rapidamente. Somado ao sono irregular e ao consumo de alimentos gordurosos, o quadro pode intensificar o mal-estar.
“Entre um copo e outro de destilado ou cerveja, é recomendado beber um copo de água para compensar o efeito diurético”, diz Santos.
Se houver ingestão muito grande de álcool e surgirem sintomas como sonolência excessiva, vômitos repetidos ou diarreia, especialmente com sangue, ele recomenda buscar atendimento médico.
“Mas, na maioria dos casos, é só um mal-estar geral, uma dor de cabeça, que melhora bebendo bastante água.”
De acordo com o nutrólogo Murillo Monteiro, fundador do Instituto Mutare e médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo, é possível reduzir os efeitos da ressaca com alguma preparação prévia e cuidados simples após as celebrações.
Ele explica que a “permissividade consciente” ajuda a equilibrar o período, ou seja, aproveitar as festas, mas de forma planejada. Antes da ceia, ele aconselha evitar chegar faminto ao manter refeições normais ao longo do dia, além de acrescentar fibras e proteínas. Quem já pratica exercícios, até quem não, também pode se beneficiar de treinos pela manhã, que ativam o metabolismo.
No dia seguinte, o álcool pode causar hipoglicemia, deixando o corpo lento e cansado. Por isso, Monteiro sugere consumir carboidratos simples, como arroz com feijão, tapioca ou crepioca, além de reforçar a hidratação para acelerar a eliminação das toxinas do álcool.
Para desconfortos gástricos, antiácidos e inibidores de bomba de prótons, como omeprazol e pantoprazol, podem ajudar, pois a bebida aumenta a acidez estomacal. Já café e energéticos devem ser usados com cautela, porque apesar do estímulo temporário, podem causar efeitos cardíacos em algumas pessoas.
Santos também lembra que, nas festas, aumenta-se a circulação de vírus e bactérias, já que muitas pessoas manipulam alimentos, conversam sobre a comida, trocam copos e talheres e cumprimentam-se sem lavar as mãos.
“Isso aumenta o risco de intoxicação alimentar, uma gastroenterocolite que pode causar diarreia, vômitos, dor abdominal, febre e mal-estar.”
Para evitá-la, é importante ter cuidado no preparo. Carnes bovinas, suínas e aves, por exemplo, oferecem risco quando consumidas cruas ou malpassadas.
“As carnes mal preparadas podem conter bactérias como Escherichia coli e Salmonella. O cozimento completo é essencial”, afirma. Ovos, frutos do mar e peixes também exigem higiene rigorosa. Leite cru pode conter bactérias perigosas. Frutas, verduras e legumes devem ser bem lavados.
A gastroenterologista Vanessa Prado compartilha dicas para evitar o mal-estar causado pelo excesso de comidas gordurosas e álcool. Confira abaixo.
– Mantenha os remédios que você já usa: Quem tem gastrite, refluxo, azia ou outras condições tratadas não deve suspender medicações durante as festas, a não ser que receba orientações médicas para isso.
– Mastigue devagar: É o principal fator para evitar mal-estar. Nas festas, as pessoas comem falando e mastigam mal. Mastigar bem reduz azia, refluxo e gases, e diminui a distensão abdominal.
– Vá devagar no prato: Coloque pouca comida, coma com calma e só depois volte a conversar. Comer automaticamente aumenta o risco de mal-estar.
– Capriche na hidratação antes das festas: Beba água ao longo do dia. Se for exagerar no álcool, aumente a ingestão em 1 litro além do habitual. A recomendação média é de 2,5 a 3 litros por dia, ajustando ao tamanho corporal. Alimentos ricos em glicose, como sucos, ajudam o corpo a lidar com o álcool.
– Misture menos bebidas alcoólicas: Cada bebida tem acidez e teor alcoólico diferentes; destilados sobrecarregam mais o fígado. Misturar vários tipos aumenta o trabalho do fígado e rins e piora o mal-estar.
– Cuide da alimentação antes e durante o evento: Não vá à ceia de estômago vazio e mantenha as refeições do dia.
– Se exagerou, faça uma dieta leve no dia seguinte: Prefira alimentos de fácil digestão, como sucos, legumes cozidos, chás de camomila ou hortelã e preparações líquidas ou pastosas. Evite frituras, condimentos, carnes e pratos pesados.
– Cuidado com a conservação dos alimentos: Pratos com ovo e maionese devem ficar refrigerados. Atenção especial ao salpicão de frango, que estraga facilmente.
– Evite compartilhar copos e talheres: O “experimenta aqui, toma um gole ali” favorece contaminações e deve ser evitado.
– Quando procurar ajuda médica? Vômitos persistentes, enjoo que impede a alimentação, dor abdominal intensa e diarreia podem indicar intoxicação ou desidratação e exigem avaliação médica. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
