“Semana-bomba”. É assim que aliados de Jair Bolsonaro de dentro e de fora do Congresso têm se referido, em reservado, aos acontecimentos dos últimos dias. Desde a aprovação da urgência da anistia na quarta-feira passada (17), os bolsonaristas foram do céu ao inferno num curto intervalo de tempo.
A convocação das manifestações de domingo (21) contra a PEC da Blindagem, que dificulta a investigação de parlamentares, e contra a anistia do ex-presidente e condenados pelo 8 de Janeiro marcaram o início da “maré de azar bolsonarista”.
Surpreendidos pela dimensão dos atos, que chegaram a superar o tamanho de manifestações de grande porte convocadas pela direita, como o último 7 de Setembro na Avenida Paulista, os bolsonaristas passaram a criticar a vinculação da PEC da Blindagem à anistia.
Os líderes do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante e Zucco, e no Senado, Rogério Marinho, entraram no radar das queixas de expoentes da direita por terem articulado a votação da anistia próxima a uma pauta tóxica como a blindagem dos parlamentares.
O revés de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na Câmara dos Deputados, após ser nomeado como líder pelo PL para não ter as faltas contabilizadas e, assim, evitar sua cassação, foi outro banho de água fria.
Na terça-feira (23), o presidente da casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), barrou a estratégia e vetou a indicação do parlamentar. Em paralelo, o Conselho de Ética da Câmara abriu um processo que pode levar à cassação do deputado por condutas incompatíveis com o mandato. Além disso, ele foi denunciado por coação pela Procuradoria-Geral da República por sua atuação nos Estados Unidos de estimular sanções a autoridades brasileiras para interferir no julgamento de Jair Bolsonaro.
Os elogios inesperados de Donald Trump a Lula durante a Assembleia Geral da ONU foram outro fator, que segundo aliados do ex-presidente, coroou a “semana-bomba”. Apesar de a ordem ser minimizar a fala do presidente americano de que ele e o petista tiveram uma “ótima química”, o gesto esvazia a narrativa de que só Eduardo Bolsonaro e seus aliados têm o monopólio do acesso ao americano.
“Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto deles, eu não faço. Quando eu não gosto, eu não gosto. Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal”, disse Trump em seu discurso sobre Lula.
A torcida para que a conversa marcada para a semana que vem entre ambos sobre o tarifaço não prospere passou a ser o foco dos aliados de Jair Bolsonaro, que temem que a aproximação entre os dois presidentes possa enterrar de vez a anistia. (Com informações da colunista Bela Megale, do jornal O Globo)