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Bolsonaro cumprimenta, sem máscara, apoiadores em São Francisco do Sul, litoral de Santa Catarina

Presidente cumprimenta apoiadores em Santa Catarina. (Foto: Ivan de Leone/Prefeitura de São Francisco do Sul)

Na semana em que o Brasil registrou o maior número de mortes por coronavírus desde julho, o presidente Jair Bolsonaro voltou a causar aglomeração e fazer discursos negacionistas. Ele chegou neste sábado (13), a São Francisco do Sul, em Santa Catarina, e parou em diferentes pontos da cidade para cumprimentar, sem máscara, apoiadores. Tirou fotos e pegou crianças no colo.

Bolsonaro voltou nessa semana a fazer discursos negacionistas a respeito da pandemia. Ele defendeu tratamentos sem eficácia comprovada contra a doença e questionou a validade de vacinas já aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Temos um vírus. Não negamos. Temos. Estamos preocupados. Hoje meus irmãos decidiram, estão votando aqui se a minha mãe (Olinda Bolsonaro) vai ser vacinada ou não, com 93 anos. Eu já dei lá, eu votei lá sim. Com 93 anos, deixar ela ser vacinada mesmo com uma vacina aí, não está comprovada cientificamente”, disse o presidente em entrevista à TV Band, logo depois de dizer que é favorável à vacinação. Ao contrário do que disse o mandatário, a CoronaVac teve sua eficácia comprovada por testes clínicos.

O coronavírus, que já matou mais de 230 mil brasileiros, também foi praticamente ignorado na agenda oficial do presidente da República. Ele teve um único compromisso oficial relacionado ao assunto durante a semana: uma reunião com Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa. Em falas oficiais, o presidente da República se mostrou pouco preocupado com o vírus: o termo “covid-19” aparece uma única vez nos discursos públicos de Bolsonaro registrados pelo site da Presidência desta semana.

Na quinta-feira (11), dia em que o Brasil contabilizou 1.452 óbitos por coronavírus, Bolsonaro defendeu o uso de um tratamento experimental contra o câncer no enfrentamento ao coronavírus. A droga, chamada EXO-CD24, foi desenvolvida em Israel e é aplicada por meio de um spray nasal. O fármaco está sendo testado para o combate ao novo coronavírus, mas ainda não há comprovação de sua efetividade.

Ele também criticou o que chamou de “pilha da vacina”. “Quando eu falei de remédio lá atrás, levei pancada. Nego bateu em mim até não querer mais. Entrou na pilha da vacina. O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil. Nós devemos ter várias opções”, disse o presidente. “Se Deus quiser, amanhã, encontro nosso Benjamin Netanyahu para tratar desse assunto”, disse.

“Conversei com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Dentre outros assuntos, tratamos da participação do Brasil na 3ª fase de testes do spray EXO-CD24, medicamento israelense que, até o momento, vem obtendo grande sucesso no tratamento da covid-19 em casos graves”, escreveu o presidente no Twitter.

Legislativo e Judiciário

No Congresso, cresce o movimento de senadores que desejam iniciar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a postura do governo federal na pandemia. A possibilidade de que a CPI seja instalada aumentou depois do depoimento do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, aos senadores.

No Judiciário, a conduta de Pazuello é investigada em um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), aberto pelo ministro Ricardo Lewandowski no fim de janeiro. O objetivo é apurar o colapso do sistema de saúde em Manaus, no Amazonas, onde pelo menos trinta pacientes de coronavírus morreram em janeiro em decorrência da falta de oxigênio hospitalar.

Máscaras e vacina

Profissionais de saúde reafirmam a importância do uso de máscaras, medidas de distanciamento social e vacinação para o combate ao novo coronavírus, e alertam sobre o risco da automedicação.

“Diante da dramática situação provocada pela pandemia do coronavírus, são dois grandes eixos para reduzir o impacto e o sofrimento da população. Primeiro, a manutenção das medidas de proteção individual, incluindo o distanciamento social, a higiene pessoal e o uso da máscara. E segundo, a vacinação”, disse Rivaldo Venâncio da Cunha, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz.

“Como recomendado para todas as outras doenças, alertamos também para o risco da automedicação, que deve ser evitada sempre”, disse ele, referindo-se a tratamentos sem eficácia comprovada contra a doença. O médico ressaltou que fala em caráter pessoal, e não em nome da instituição.

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