Questionado na manhã dessa quarta-feira (20) se já escolheu o novo ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o general Eduardo Pazuello, que assumiu interinamento o comando da pasta após a saída de Nelson Teich, na semana passada, “vai ficar por muito tempo” no cargo. Ainda segundo Bolsonaro, Pazuello, que não tem experiência prévia com a área de saúde, é “um bom gestor” e terá médicos em sua equipe.
“Ele vai ficar por muito tempo esse que tá lá. Não vou mudar não. Ele é um bom gestor e vai ter uma equipe boa de médicos embaixo dele”, declarou o presidente, em conversa com garis no caminho entre os palácios da Alvorada e do Planalto, por volta das 9h.
Bolsonaro falou ainda sobre os impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus na população mais pobre, que já está com geladeiras vazias, e reiterou que “mais da metade” vai pegar a doença.
“Não adianta. É igual a uma chuva chover aqui agora. Vamos enfrentar, tomar conta do pai de vocês, da minha mãe, que está viva, quem pegou a doença, e toca o barco, toca a vida. Esse empobrecimento que estão fazendo quase no Brasil todo vai levar o pobre a ficar mais pobre, classe média ficar pobre, e é ruim para todo mundo, porque sem dinheiro não tem vida, não tem saúde”, declarou.
Técnicos
Um artigo assinado por oito técnicos do Ministério da Saúde e enviado para a Revista da Associação Brasileira de Saúde Coletiva aponta que não há eficácia e segurança comprovadas de nenhum medicamento para o tratamento do novo coronavírus.
Segundo o texto, as “melhores evidências” colhidas até o mês de abril não conseguiram comprovar os benefícios do uso da cloroquina, apresentando resultados distintos entre si.
O uso da cloroquina foi o pivô da demissão dos dois últimos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Nenhum dos dois aceitou expandir o uso do remédio sem que sua eficácia contra a covid-19 fosse comprovada. O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, divulgou um novo protocolo referente ao uso da substância.
Como exige Bolsonaro, pelas novas regras, os médicos poderão utilizar o medicamento em qualquer paciente com covid-19. Na prática, o protocolo garante a utilização do medicamento até em casos leves.
O artigo enviado para publicação é assinado ao todo por 11 pesquisadores, oito deles ligados ao departamento responsável pela coleta de evidências do Ministério da Saúde. Segundo seus autores, o estudo foi conduzido para informar cientificamente, e de modo imparcial, a tomada de decisão em saúde dos gestores do Ministério da Saúde do Brasil no contexto da emergência de saúde pública de importância nacional. No texto, ao citar pesquisas publicadas internacionalmente, é sugerida a possibilidade do coronavírus ser uma doença “essencialmente não-tratável”.
“A quantidade de estudos conduzidos em paralelo sugere que a comunidade científica está fazendo um grande esforço na busca de tratamentos seguros e eficazes. Contudo, há grandes chances de estarmos lidando com uma doença essencialmente não-tratável, somente com necessidade de medidas suportivas”, afirmam os pesquisadores.
Entre essas medidas que podem evitar a mortalidade, as autoras destacaram o isolamento social, avanço na capacidade de testagem e medidas de prevenção. No artigo, os técnicos do Ministério da Saúde revisaram 37 pesquisas de vários países dedicadas à investigação de tratamentos contra o coronavírus. Somadas, observaram um total de 2.545 pacientes.
A avaliação da qualidade dos estudos e a redação do artigo foi realizada por seis técnicas do Ministério da Saúde. O documento passou ainda pela revisão de outros cinco pesquisadores. Entre elas, estão a diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e a Coordenadora de Evidências e Informações Estratégicas em Gestão em Saúde.
As técnicas do Ministério da Saúde buscaram as pesquisas em plataformas de pesquisas médicas internacionais, como “Medline” e “International Clinical Trails Registry Platform”. Cientistas ao redor do mundo costumam enviar seus trabalhos para essas bases. A maioria dos estudos tiveram sua aplicação em pacientes de hospitais chineses e americanos.
Em relação à cloroquina, foram analisados dez estudos, que tiveram resultados inconclusivos. “(Um estudo) demonstrou que o grupo (que tomou o remédio) apresenta maior risco de morte por qualquer causa quando comparado ao grupo sem cloroquina. Contudo, (outro estudo) não observou diferença entre os grupos”, dizem os técnicos do ministério.
