Ícone do site Jornal O Sul

Bolsonaro leu e alterou minuta golpista, diz seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid ao Supremo

O tenente-coronel Mauro Cid firmou acordo de delação premiada. (Foto: Reprodução)

O tenente-coronel Mauro Cid, que firmou acordo de delação premiada, afirmou em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nessa segunda-feira (9) que o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações em uma minuta golpista elaborada por assessores. O ex-ajudante de ordens afirmou ainda que o ex-comandante da Marinha Almir Garnier deixou as tropas da Força “à disposição”.

“De certa forma, ele (Jair Bolsonaro) enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Moraes) ficaria como preso”, disse Cid, que foi cumprimentado por Bolsonaro antes do início da audiência.

Ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, Cid disse ainda que Garnier deixou as tropas da Marinha “à disposição”. O tenente-coronel acrescentou ainda que “presenciou” a trama golpista no governo, mas negou que tenha participado das ações que estão em julgamento na Corte.

“Eu presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”, disse Cid.

Moraes começou o depoimento tratando de questionamentos à delação premiada, que foi criticada pelas defesas de outros réus em função de supostas omissões. Em áudio divulgado pela revista Veja em março do ano passado, Cid conversa com um interlocutor, faz críticas a Moraes e diz que foi pressionado pela Polícia Federal a relatar determinados fatos. Cid disse que se tratava de um desabafo e reiterou que todas as informações que prestou à investigação são verdadeiras. Ela também negou ter sofrido coação.

“Era um desabafo que eu estava fazendo. Vendo minha carreira desbando, o que gerou uma crise psicológica muito grande, o que levou a um desabafo naquele momento ruim”, disse Cid.

Moraes enfatizou que Cid prestou quatro depoimentos no inquérito da trama golpista. A declaração visa rebater a argumentação das defesas de Bolsonaro e Braga Netto, segundo a qual Cid teria dado diferentes versões à PF e não teria credibilidade como delator.

Cid listou ainda os “grupos” que incentivariam Bolsonaro a levar adiante a ofensiva golpista. Segundo ele, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier ser um integrante da ala “radical”, enquanto os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto seriam mais “moderados”. O tenente-coronel, no entanto, fez uma ponderação:

“Só para não ser injusto e às vezes ficar uma ideia errada: independentemente do que os militares pudessem falar, não significaria que eles iriam fazer. (…) Dentro do círculo de legalidade das Forças Armadas, dificilmente sem uma ordem do comandante esse círculo da legalidade seria rompido.”

Avaliação da PGR

Integrantes da Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliam que o interrogatório de mais de quatro horas do tenente-coronel Mauro Cid serviu para confirmar fatos básicos de sua colaboração premiada.

De forma reservada, interlocutores da PGR dizem que o depoimento não trouxe surpresas, apesar de observarem que Cid tenha sido esquivo na complementação de fatos que já havia admitido. As informações são do jornal O Globo.

Sair da versão mobile