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Briga por direitos autorais faz músicos desistirem de box do Legião Urbana

Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista do Legião Urbana. (Foto: Reprodução)

Quando descobriu o tamanho da criatura que havia ganhado vida própria por suas mãos, Renato Russo foi ao microfone e proclamou ao mar de fiéis à sua frente: “A gente está aqui no palco, mas a verdadeira Legião Urbana são vocês”. A verdadeira Legião Urbana, ainda mais numerosa do que na década de 1980, não deve estar feliz com os últimos acontecimentos que envolvem a longa batalha por direitos autorais entre o filho e único herdeiro de Renato, Giuliano Manfredini, e os dois legionários remanescentes, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.

Além da turnê que começaram recentemente e segue por várias cidades do país, Dado e Bonfá já tinham em mãos um segundo projeto fonográfico pronto e acabado. Um box que traria dois discos, um livreto e potencial para provocar êxtase nos fãs: uma remasterização do primeiro álbum da Legião que completa 30 anos, com “Será”, “Geração Coca-Cola” e “Soldados”, e um segundo disco com sobras de estúdio e versões de músicas como algumas que a Legião tocou para mostrar à gravadora EMI quando chegou de Brasília ao Rio. O diamante é a música “1977”, que a banda gravou e nunca lançou porque Renato não gostou do resultado e acabou desmembrando-a para dar origem a outros dois futuros canhões: a melodia inspirou “Fábrica” e parte da letra deu vida a “Tempo Perdido”.

Com o box pronto, então, Dado e Bonfá receberam o comunicado de que “1977” pertencia não a eles, mas a Renato Russo e a seu filho. Imediatamente, publicaram também um documento que provava o contrário. Carimbado pelo Departamento de Censura de Diversões Públicas da Polícia Federal, a letra da música em papel timbrado da EMI comprova as assinaturas da autoria de “1977”: “Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá”. Mesmo com a comprovação, foram informados de que a música havia sido registrada em 2003 no Ecad por Manfredini e, assim, desistiram de lançar o box. “A questão não é dinheiro, mas moral. O herdeiro de Renato tem colocado a integridade deles em questão”, diz uma fonte ligada aos músicos que não quer se identificar.

O dilema de 1977 não interfere na temporada de shows que vão comemorar os 30 anos de lançamento do primeiro disco da banda – um alento aos seguidores. Por enquanto, quem mais perde com o álbum jogado na fogueira das ambições é uma das maiores bases de fãs que uma banda de rock já teve no Brasil. Ou, como diria Renato Russo, a verdadeira Legião Urbana.

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