O presidente argentino, Alberto Fernández, anunciou nesta sexta-feira (26) uma volta à fase 1 da quarentena na capital e na província de Buenos Aires, endurecendo as restrições à circulação de pessoas depois que os casos do novo coronavírus aumentaram na região, embora estejam sob controle na maior parte do resto do país.
A nova etapa durará dez dias úteis, e irá da próxima quarta-feira, 1° de julho, a 17 de julho — o período compreende dois fins de semana e dois feriados.
A Argentina, que a princípio evitou a disseminação rápida da Covid-19 com um um isolamento rigoroso decretado em 20 de março, viu os casos quintuplicarem desde meados de maio, quando a quarentena começou a ser relaxada. Mesmo assim, mantém números bem mais baixos do que os de países vizinhos como Brasil, Peru e Chile: no total, tem 52 mil infectados e 1.167 mortos.
Em rede nacional, em uma mensagem gravada de cerca de 50 minutos, Fernández, ao lado do prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, e do governador da província, Axel Kicillof, anunciou um esquema rigoroso para a região metropolitana, a fim de evitar um colapso do sistema sanitário do país. Ele explicou que, com o aumento da circulação das pessoas, houve um crescimento exponencial de casos, 97% deles na região metropolitana de Buenos Aires.
“Sabíamos que isso poderia acontecer e estávamos preparados para fazer frente a isso. Agora, precisamos ganhar tempo para garantir que nosso sistema de saúde melhore e possa atender a absolutamente todos os argentinos.”
Pressionado por empresários e por setores da classe média, o governo argentino vinha tentando revitalizar a economia atingida pela quarentena, permitindo que mais negócios abrissem, embora parques, escolas e escritórios da capital continuassem fechados.
No pronunciamento, Fernández argumentou que as previsões de queda do PIB, que na Argentina é estimada em 9,9% neste ano, atingem igualmente países que adotaram e não adotaram quarentenas rígidas.
“Para muitos, manter a quarentena é prolongar um problema que tem consequências econômicas. Mas o problema econômico não é a quarentena, é a pandemia. A economia se deteriora, mas se recupera. O que lamentavelmente não vamos recuperar são os mil argentinos que nos deixaram”, afirmou. “E, hoje, a quarentena é o único remédio que conhecemos.”
O novo endurecimento é um retorno ao início da quarentena, embora com variações, como a abertura de bancos e a permissão para saídas recreativas com crianças. Mas apenas serviços essenciais poderão continuar funcionando e não serão mais permitidas atividades esportivas ao ar livre. Só poderá usar o transporte público quem tem tiver permissão para circular.
As infecções aumentaram particularmente no bairros mais pobres dos subúrbios de Buenos Aires. Enquanto os hospitais da capital ainda estão longe do colapso — a ocupação de leitos de UTIs é de 54,1% — na província a situação é mais grave. Especialistas preveem que os casos de coronavírus atingirão um pico nas próximas semanas, com a chegada do inverno no Hemisfério Sul.
Comparação com o Brasil
As medidas de isolamento vinham sendo flexibilizadas pouco a pouco após uma quarentena rigorosa determinada ainda no início da pandemia. “Se não tivéssemos feito isso, tudo teria sido mais grave”, justificou o presidente, que mencionou o caso do Brasil, com mais de 55 mil mortes registradas pela doença nesta sexta.
“Pensem que o Brasil tem hoje cerca de 50 mil mortes e tem cinco vezes a quantidade de habitantes que a Argentina tem. Se a Argentina tivesse seguido o ritmo do Brasil, teria hoje 10 mil mortos”, comparou.