A Caixa Econômica Federal vai criar sua própria plataforma de apostas on-line, uma bet. O presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Antônio Vieira, confirmou em entrevista esta semana ao Money Times que o banco estatal lançará ainda em novembro deste ano sua própria casa de apostas.
Segundo Vieira, o objetivo da “bet da Caixa” é abrir concorrência com outras plataformas de apostas e recuperar receita, já que o crescimento das bets no país tem afetado diretamente o desempenho das loterias da Caixa. O executivo prevê uma arrecadação entre 2 bilhões e 2,5 bilhões de reais já em 2026.
Após as declarações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu convocar o presidente Carlos Vieira para uma reunião para explicar o anúncio do banco. O encontro deve acontecer assim que Lula regressar da Ásia.
O incômodo de Lula com a iniciativa da Caixa foi confirmado por auxiliares do presidente e também por fontes da cúpula do banco. Segundo aliados, a criação de uma casa de apostas por um banco público federal vai na contramão do discurso crítico que o governo tem adotado em relação às apostas esportivas.
Reações
A possibilidade da Caixa entrar nesse mercado foi criticada pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Para a entidade, a medida “deveria causar mais do que estranhamento, deveria causar repúpio”. A instituição, que há mais de 160 anos simboliza a presença social do Estado brasileiro, agora se coloca no mesmo mercado de empresas que lucram com o vício, a ilusão e o endividamento. É uma contradição profunda: um banco público de fomento social convertendo-se em operador digital de jogos de azar”, disse.
Ainda segundo nota do Idec, a Caixa não é um banco qualquer. “Ela é a guardiã do FGTS, a gestora do Bolsa Família, o agente financeiro da habitação popular e do Seguro-Desemprego, entre outros programas. Sua missão institucional é promover inclusão, cidadania e desenvolvimento. Ingressar em um setor tão mal regulado, socialmente danoso e pouco fiscalizado quanto o das apostas online é negar essa missão em nome da arrecadação e inverter o princípio de que um banco público existe para proteger o cidadão, não explorá-lo”, disse nota de repúdio divulgada na sexta-feira (24).
Críticas da oposição
Em pronunciamento no Plenário na quarta-feira (22), a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) criticou a decisão da Caixa de lançar uma plataforma própria de apostas on-line. Para ela, a iniciativa desvirtua a função social desse banco público e representa um risco para as famílias brasileiras por estimular o vício em jogos de azar entre a população mais vulnerável.
“A decisão da Caixa representa talvez um dos maiores retrocessos morais e sociais da história recente do país. Trata-se de um movimento contraditório, perigoso e profundamente irresponsável, vindo justamente de uma instituição pública, que nasceu para promover o desenvolvimento social, a habitação popular e a inclusão financeira, e não para explorar o vício e a vulnerabilidade econômica da população mais pobre”, afirmou a senadora na ocasião.
Arrecadação
De acordo com o Ministério da Fazenda, o setor de jogos online movimentou 17,4 bilhões de reais apenas no primeiro semestre de 2025, valor referente somente ao quanto foi gasto por apostadores. A média por usuário ativo teria sido de 983 reais no semestre, o equivalente a cerca de 10% do salário-mínimo atual, que é de 1.518 reais.
Além disso, a arrecadação de impostos mostra o avanço das bets sobre as loterias tradicionais. Entre janeiro e julho, a Receita Federal recolheu 4,73 bilhões de reais em tributos sobre jogos, dos quais 2,6 bilhões vieram de apostas esportivas, superando os 2,1 bilhões das loterias.
Segundo dados da consultoria internacional Regulus Partners, divulgados pela BBC News Brasil, empresas de apostas online devem faturar US$ 4,139 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) no Brasil em 2025, o que coloca o País como quinto maior mercado do mundo para o setor. Com informações da revista Veja e os jornais O Globo e O Tempo.
