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Câmara terá palavra final sobre eventual prisão da deputada federal Carla Zambelli

Caso da parlamentar, que fugiu após ser condenada pelo STF, pode ser explorado para gerar novo embate entre Legislativo e Judiciário. (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

A Câmara dos Deputados terá de decidir sobre a manutenção de uma eventual prisão da deputada Carla Zambelli (PL-SP). Condenada a 10 anos por invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a parlamentar fugiu para os Estados Unidos no final de maio.

Nessa quarta-feira (4), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, atendendo a uma solicitação da Procuradoria-Geral da República (PGR), determinou a prisão preventiva da deputada e solicitou à Polícia Federal (PF) que tome medidas para inclusão dela na lista vermelha da Interpol (a polícia internacional).

De acordo com a Constituição Federal brasileira, a prisão de um deputado precisa ser confirmada pelo plenário da Câmara com pelo menos 257 votos. Casos semelhantes já aconteceram, por exemplo, com os ex-deputados Chiquinho Brazão e Daniel Silveira.

Integrantes da Mesa Diretora dizem que uma eventual prisão seria analisada já na primeira sessão da Casa após a captura de Carla Zambelli. Contudo, se não houver 257 votos a favor da determinação do Supremo, a prisão é revogada – o que, na avaliação de técnicos e parlamentares, pode gerar uma crise institucional com o STF.

A análise da prisão da deputada só não passaria pelo plenário se a perda do mandato dela fosse decretada antes da detenção. Isso poderia se dar por uma decisão da Mesa Diretora da Casa, por meio de um despacho e sem votação no plenário.

Na decisão de condenação de Zambelli, a Primeira Turma determina a perda do mandato neste formato, após o trânsito em julgado da ação. O entendimento é que, em razão da prisão, a parlamentar terá de faltar às sessões do plenário, o que justificaria uma perda de mandato por faltas.

Seguindo este entendimento do STF, o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), apresentou nesta quarta-feira um pedido à Mesa para que a perda de mandato de Zambelli seja declarada de forma imediata. Ainda não há nenhum andamento sobre a solicitação.

Clima acirrado

Parlamentares afirmam que Zambelli tem pouco apoio dentro da Câmara para reverter um prisão em eventual votação no plenário da Casa. Entretanto, afirmam esses deputados, o clima entre Legislativo e Judiciário está “acirrado” e o caso da deputada do PL pode ser utilizado para que a Câmara “passe um recado” para os ministros da Suprema Corte.

Líderes de diferentes partidos demonstram incômodo com o que consideram “interferências” do STF no funcionamento da Câmara, com decisões que atingem deputados e as emendas parlamentares.

Eduardo Bolsonaro

Deputados ligados à cúpula da Câmara avaliam que a forma como o PL, partido de Zambelli e dos integrantes da família Bolsonaro, vai lidar com o caso da parlamentar pode influenciar no posicionamento da Câmara.

O partido pode encampar um discurso de que outros deputados “podem ser os próximos” a enfrentarem situações semelhantes e o precedente de Zambelli pode beneficiá-los ou atrapalhá-los, conforme o que for decidido.

Embora Zambelli tenha poucos aliados dentro da Câmara e do próprio PL, há um receio entre os parlamentares da sigla de que um dia Eduardo Bolsonaro (PL-SP) possa estar na mesma situação da deputada.

Se o PL fechar posição em defesa de Zambelli, o entendimento de congressistas é de que a temperatura tende a subir e, inclusive, a prisão da deputada, se for concretizada, pode ser revertida pelo plenário da Câmara.

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