Maior planeta do Sistema Solar, Júpiter deverá ter alguns de seus segredos revelados a partir de julho, com a entrada da sonda Juno em uma órbita polar em torno dele. Lançada em 2011, a missão da Nasa (agência espacial americana) é um dos grandes destaques da exploração espacial em 2016, que também verá as partidas em março da primeira nave do programa ExoMars, da ESA (Agência Espacial Europeia), para estudos da atmosfera e do solo de Marte, e da sonda Osiris-Rex, também da Nasa, em setembro, com encontro marcado com o asteroide Bennu em 2018 – e volta à Terra com uma amostra inédita desta rocha espacial, verdadeiro “fóssil” da formação do Sistema Solar, em 2023.
“Com a Juno, este realmente deverá ser o ano de Júpiter”, considera o astrônomo Alexandre Cherman. “Por mais que tenhamos apego à Terra, Júpiter é o primogênito e principal planeta do Sistema Solar, com uma massa maior que a soma de todos os outros planetas juntos. Tudo que aconteceu na formação do Sistema Solar, há cerca de 4,6 bilhões de anos, aconteceu primeiro lá e, assim, todas informações que conseguirmos sobre ele e sua evolução nos darão uma ideia mais precisa sobre a formação dos demais planetas e sua influência neste processo”.
Para conseguir estas informações, a Juno conta com um conjunto de sensíveis e inéditos instrumentos para investigação das características de Júpiter, já observado de perto por várias outras missões da Nasa, das sondas Voyager 1 e 2, de passagem, no fim dos anos 1970, amais recente Galileo, primeira e até agora única a entrar em sua órbita, em meados da década de 1990. Girando continuamente cerca de três vezes por minuto para maior estabilidade e melhor controle, a Juno carrega um magnetômetro que, ao longo dos aproximadamente 20 meses e 37 órbitas da missão, permitirá mapear pela primeira vez seu poderoso campo magnético com alta precisão em três dimensões, fornecendo detalhes sem precedentes sobre o dínamo interno do planeta que o alimenta.
Outro equipamento da Juno cujos dados são aguardados com ansiedade pelos cientistas é a sua câmera-espectrômetro infravermelha. Com ela, os pesquisadores poderão pela primeira vez “penetrar” a grossa camada de nuvens que recobre o gigante gasoso, fazer imagens de suas auroras polares e estudar a composição exata de sua atmosfera, também uma verdadeira “relíquia” da formação do Sistema Solar, além de identificar a possível existência de um núcleo sólido de hidrogênio metálico no planeta e, talvez, resolver o mistério do porquê de Júpiter emitir por volta de duas vezes mais radiação nesta faixa do espectro, na forma de calor, do que recebe do Sol. “Uma das características mais enigmáticas de Júpiter é essa emissão térmica peculiar, e queremos entender de onde vem esta energia”, conta a astrônoma Duilia de Mello. “Planetas só refletem a radiação que recebem de sua estrela e os outros gigantes gasosos do Sistema Solar, Saturno, Urano e Netuno, não apresentam este tipo de emissão. Assim, alguma coisa tem que estar acontecendo dentro de Júpiter para produzir esta radiação”.
Muitas vezes descrito como uma estrela “frustrada”, que não atingiu massa suficiente para dar início às reações de fusão nuclear que alimentam astros como nosso Sol, talvez ainda assim Júpiter seja grande o bastante para que algum processo físico diferente em seu interior responda por esta energia “a mais”. Mas o fenômeno provavelmente tem alguma coisa a ver com algo que aconteceu ainda no processo de formação do Sistema Solar que dura até hoje – aposta a astrônoma. “Além disso, como Júpiter é muito grande, talvez ele ainda não tenha esfriado o suficiente desde que foi formado. O certo é que algo está acontecendo lá dentro do planeta que a gente não consegue ver e que a missão da Juno vai ajudar a revelar”.
Cherman, por sua vez, acredita que a melhor compreensão sobre os processos de formação e evolução de Júpiter terá muito a dizer sobre como os outros planetas se formaram e o porquê de o Sistema Solar ter a configuração que tem, com os pequenos planetas rochosos – Mercúrio, Vênus, Terra e Marte – mais próximos do Sol enquanto os gigantes gasosos ficam bem mais afastados, diferente de muitos dos sistemas planetários extrassolares descobertos até agora, em que gigantes gasosos foram identificados bem perto de suas estrelas e, por isso, acabaram apelidados de “jupiteres quentes”. (AG)