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Cientistas criticam a transparência da CoronaVac, mas dizem que a vacina será valiosa para conter a pandemia no país

A vacinação dos profissionais de saúde começa nesta quinta-feira no país. (Foto: Governo de São Paulo)

Após muita expectativa e especulação, o anúncio dos resultados preliminares de eficácia da CoronaVac foi recebido com grande entusiasmo após a apresentação do Governo do Estado de São Paulo.

De acordo com os dados apresentados na coletiva, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e testada no Brasil pelo Instituto Butantan conseguiu diminuir em 78% os casos leves de covid-19 e reduzir em 100% os quadros moderados, graves e as internações.

Passada a euforia inicial, muitos cientistas começaram a questionar os números divulgados e as explicações dadas pelos cientistas e representantes do governo paulista. Afinal, o que significam esses números todos? E qual é a real eficácia do imunizante?

“O anúncio foi promissor, mas infelizmente eles não nos mostraram o dado principal, que é justamente a taxa eficácia da vacina”, analisa a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, entidade sem fins lucrativos baseada nos Estados Unidos que trabalha para expandir a imunização a todos os cantos do mundo.

O que aconteceu?

A confusão que aconteceu após anúncio dos resultados do produto desenvolvido por Sinovac/Butantan parece estar relacionada à forma como foi feita essa análise preliminar.

“Antes de ser iniciado, o teste clínico precisa ser descrito num protocolo, que determina os desfechos primários e secundários”, explica Garrett, que atuou por mais de 20 anos nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o CDC.

O desfecho primário é o principal resultado que o estudo pretende encontrar. Já os desfechos secundários são outras observações e medidas que podem ser realizadas durante o trabalho, mas que são de menor importância.

No protocolo do Instituto Butantan, o desfecho primário estabelecido lá no início foi determinar a taxa de eficácia da vacina a partir da quantidade de voluntários com casos sintomáticos de covid-19 confirmados por meio de um exame RT-PCR (guarde bem essas duas palavras: casos sintomáticos).

No documento, há também a descrição de quatro desfechos secundários. Entre eles, a incidência de casos graves da doença.

Porém, na coletiva do governo estadual, os dados de eficácia foram divididos em três categorias, de acordo com a gravidade da infecção. Foi por isso que os especialistas apontaram uma diminuição de 78% nos casos leves e de 100% nos casos moderados e graves.

“O problema está aí: no anúncio se falou em casos leves, moderados e graves, enquanto o protocolo estabelecia casos sintomáticos, independentemente do grau”, diferencia Garrett.

“Parece que foi utilizada uma escala da Organização Mundial da Saúde (OMS) para determinar a gravidade da covid-19, mas isso é subjetivo. O que é um caso leve? Se tiver dor de cabeça é considerado o quê?”, questiona a especialista.

Afinal, qual a taxa de eficácia?

Depois da apresentação, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, deu mais detalhes sobre a taxa de eventos (aquela quantidade de voluntários que pegaram o coronavírus após tomar as duas doses).

Segundo o médico, a análise preliminar contou com 220 eventos. Desses, 160 ocorreram no grupo placebo e “pouco menos” de 60 no grupo que recebeu a vacina de verdade. “Considerando esses números, chegaríamos a uma eficácia de cerca de 64%, o que é um número bom”, calcula Garrett.

O imunizante desenvolvido e testado por Sinovac e Butantan utiliza a tecnologia de vírus inativado, uma das mais tradicionais e com décadas de uso na saúde pública. As doses podem ser armazenadas em geladeiras comuns, o que facilita o transporte e o armazenamento, mesmo nas regiões com menor infra-estrutura.

Além disso, os dados relacionados aos desfechos secundários (aquela diminuição de 78% nos casos leves e 100% nos casos moderados e graves e nas hospitalizações) são achados muito promissores.

“Falamos de uma vacina capaz de reduzir a gravidade da infecção, o que traz um impacto muito bom na taxa de internações e óbitos”, concorda Waldman.

A prevenção das complicações do coronavírus pode ajudar a desafogar os sistemas de saúde e controlar a ocupação de enfermarias e leitos de UTI. Outro ponto relevante: pelo observado até o momento, a CoronaVac é bastante segura e não provocou efeitos colaterais sérios durante os testes clínicos.

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