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Cientistas identificam quantas mutações geram cada tipo de câncer

Pesquisa analisou o DNA de 7.664 tumores para encontrar mutações mais perigosas. (Foto: Reprodução)

Um grupo de cientistas britânicos decifrou quantas mutações são necessárias para transformar uma célula saudável em cancerosa: entre uma e dez, dependendo do tipo de tumor. As descobertas foram feitas por pesquisadores do Welcome Trust Sanger Institute e publicadas na revista científica “Cell”.

O assunto foi, por décadas, alvo de debates calorosos entre cientistas que trabalham com pesquisas sobre o câncer. Segundo os pesquisadores, as descobertas podem aprimorar o tratamento contra a doença. Quando se compara uma célula saudável com uma cancerosa, é possível encontrar dezenas de milhares de diferenças – ou mutações – no DNA.

Algumas dessas mutações fazem o câncer desenvolver, enquanto outras não têm qualquer impacto em seu desenvolvimento. Então quais delas são importantes? Os pesquisadores analisaram o DNA de 7.664 tumores, para encontrar as mutações perigosas, que transformam células saudáveis em cancerosas.

Eles descobriram que uma única mutação é capaz de gerar câncer de tireoide e de testículo, quatro mutações provocam câncer de mama e fígado e dez mutações geram câncer colorretal. A equipe responsável pelo estudo acredita que as novas descobertas sobre mutações contribuirá de forma decisiva para os tratamentos contra a doença.

“Nós tínhamos, há décadas, conhecimento sobre as bases genéticas do câncer, mas a discussão sobre quantas mutações são responsáveis pela transformação em célula cancerosa era controversa”, ressalta Peter Campbell, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

Ainda segundo ele, o que se conseguiu com essa pesquisa foi o fornecimento dos primeiros dados objetivos sobre esse assunto específico. “Das milhares de mutações no genoma do câncer, só uma pequena porção é responsável por ditar o comportamento da célula, o que a torna cancerosa”, ressalta. Metade das mutações identificadas ocorreu em conjuntos de genes que nunca haviam sido associados ao câncer antes.

Tratamentos

O objetivo a longo prazo é promover tratamentos mais precisos contra o câncer. Se souberem quais mutações, dentre milhares, estão fazendo o tumor avançar, os médicos poderão determinar os medicamentos mais eficazes para combater especificamente determinada mutação.

A identificação das mutações capazes de transformar uma célula em cancerosa foi possível graças ao uso da teoria evolucionista de Charles Darwin. Em essência, essas mutações deveriam aparecer com mais frequência nos tumores do que em mutações “neutras” – aquelas que não transformam células saudáveis em cancerosas.

Conforme os cientistas, isso ocorre porque as forças da seleção natural garantem uma vantagem evolutiva às mutações que ajudam as células a crescerem e se dividirem mais rapidamente. No entanto, Nicholas McGranahan, do Instituto de Pesquisa do Câncer do Reino Unido e do Instituto do Câncer da Universidade College London, faz ressalvas ao alcance da descoberta.

“O câncer é uma doença que se desenvolve e muda o tempo todo. Faz sentido usar essas ideias de evolução das espécies para analisar falhas genéticas que permitem o crescimento do tumor, mas esse estudo foca em uma parte da evolução do câncer”, pondera. “As novas informações ajudam a resolver apenas uma parte do quebra-cabeça”, completa.

McGranahan acrescenta que outros componentes do DNA acondicionados nos cromossomos também são peças-chave na identificação das causas de surgimento do câncer: “Esses elementos precisam ser analisados, a fim de permitir uma resposta clara sobre a evolução da doença”.

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