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Cientistas transformam célula da pele em óvulo e criam embrião em feito inédito, abrindo caminho para casais inférteis e do mesmo gênero

Cientistas criam 1º embrião a partir de células da pele humana. (Foto: Oregon Health & Science University)

Cientistas da Universidade Oregon Health & Science (OHSU), nos Estados Unidos, transformaram, pela primeira vez, células humanas da pele em óvulos. Em seguida, conseguiram fertilizá-los com espermatozoides, e alguns se desenvolveram em embriões, também de forma inédita. O estudo em que relatam o feito foi publicado na revista científica Nature Communications.

“Conseguimos algo que se acreditava ser impossível”, celebra o autor sênior do estudo, Shoukhrat Mitalipov, diretor do Centro de Terapia Celular e Gênica Embrionária da OHSU, em nota.

O trabalho é do tipo prova de conceito, ou seja, buscou, de forma muito inicial, mostrar que algo é possível. Mas os pesquisadores estimam que levará pelo menos uma década até a abordagem ser considerada segura ou eficaz o suficiente para avançar para um ensaio clínico e posterior aprovação de agências reguladoras para uso pela população.

Ainda assim, o feito é comemorado como um passo importante no campo da gametogênese in vitro, uma área da medicina que tem se tornado foco de pesquisadores por todo o mundo nos últimos anos. Seu objetivo é criar gametas (óvulos ou espermatozoides) em laboratório a partir de outras células do corpo humano.

“Além de oferecer esperança a milhões de pessoas com infertilidade por falta de óvulos ou espermatozoides, esse método permitiria a possibilidade de casais do mesmo sexo terem um filho geneticamente relacionado a ambos os parceiros”, explica Paula Amato, professora de obstetrícia e ginecologia da Escola de Medicina da OHSU e autora do estudo.

Isso porque uma célula de um homem poderia ser transformada em um óvulo, assim como a de uma mulher em um espermatozoide.

Nova técnica

O novo estudo também trouxe um método novo no campo da gametogênese in vitro. Isso porque, até agora, a estratégia utilizada era regredir as células como a da pele até se transformarem uma célula-tronco pluripotente, que tem a capacidade de se diferenciar em qualquer outra do organismo. Depois forçá-la a se tornar um gameta.

Isso, porém, pode levar meses ou anos, explicam os cientistas. Por isso, agora, eles usaram uma nova técnica baseada na transferência nuclear de células, ou seja, transplantar o núcleo da célula da pele para um óvulo doado sem núcleo. Esse foi o método usado, em 1997, por pesquisadores na Escócia para clonarem a ovelha Dolly, por exemplo.

Nesse caso, os pesquisadores explicam que, ao inserir o núcleo da célula de pele no óvulo, ele descartou metade de seus cromossomos por influência do citoplasma do gameta doado e tornou o óvulo funcional. Isso é importante porque, embora todas as células do corpo tenham 46 cromossomos, as de reprodução têm 23 cada.

“A natureza nos deu dois métodos de divisão celular, e nós acabamos de desenvolver um terceiro”, diz Mitalipov, que nomeou esse processo de “mitomeiose”.

Ao fim, isso gerou 82 óvulos funcionais que, em seguida, foram fecundados via fertilização in vitro (FIV) com espermatozoides. Alguns avançaram para um embrião, embora a maioria tenha apresentado “anomalias cromossômicas” e não passado de 4 a 8 células de formação.

Mesmo assim, 9% dos embriões chegaram ao estágio de seis dias, chamado de blastocisto, em que os embriões geralmente são transferidos para estabelecer uma gestação na FIV. Segundo Mitalipov, mesmo na reprodução natural, apenas cerca de um terço dos embriões chega a essa etapa. Mas, por questões éticas, nenhum foi cultivado além desse ponto.

“Embora nosso estudo demonstre o potencial da ‘mitomeiose’ para a gametogênese in vitro, neste estágio ele permanece apenas uma prova de conceito e são necessárias pesquisas adicionais para garantir eficácia e segurança antes de futuras aplicações clínicas”, escreveram os autores.

Agora, o grupo pretende continuar as pesquisas para compreender melhor, entre outros pontos, como os cromossomos se juntam e se separam corretamente no processo de transfusão do núcleo para gerar o gameta. As informações são do jornal O Globo.

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