Astrônomos desenvolvem uma série de truques cada vez mais sofisticados para obter informações sobre planetas distantes. Eles podem até medir o balanço de estrelas e a gravidade de planetas que orbitam ao redor delas.
Em 2010, pesquisadores pegaram um vislumbre de GJ 1214b, um planeta a 48 anosluz da Terra, enquanto ele passava na frente da estrela que orbita. Quando a luz estelar brilhou através da atmosfera do planeta, certos comprimentos de onda foram absorvidos, indicando que GJ 1214b pode ter uma atmosfera rica em vapor de água.
Em 2022, astrônomos passaram a usar uma nova ferramenta poderosa para observar planetas distantes dessa forma. Eles apontaram o Telescópio Espacial James Webb para sistemas solares distantes e começaram a detectar padrões extremamente tênues na luz das estrelas, pistas da complexidade das atmosferas dos exoplanetas.
Recentemente, tais recursos levaram cientistas a divulgar a possibilidade de ter encontrado sinais de vida extraterrestre. Mas os mesmos métodos, agora, apontam que a avaliação pode ter sido precipitada. Em 2023, Nikku Madhusudhan, astrônomo na Universidade de Cambridge, e seus colegas focaram em K2-18b enquanto ele passava na frente da própria estrela, usando instrumentos no Webb extremamente sensíveis à luz infravermelha próxima. Enquanto K2-18b passava na frente da estrela, a luz estelar sofria uma mudança sutil – causada por uma atmosfera contendo hidrogênio, dióxido de carbono e metano, concluíram os cientistas.
Eles também encontraram indícios sugestivos de um quarto gás, dimetil sulfeto. Na Terra, a única fonte desse gás na atmosfera é a vida. Micróbios fotossintéticos no oceano produzem a molécula como defesa contra a luz ultravioleta do Sol.
Mas o sinal era tão fraco que era difícil ter certeza de que era real. Então, a equipe de Madhusudhan planejou olhar novamente para K2-18b, em 2024. Desta vez, eles usaram um instrumento diferente no Webb, que olha para comprimentos de onda mais longos de luz infravermelha média. Na segunda busca, voltaram a encontrar uma assinatura de dimetil sulfeto, aparentemente ainda mais forte que a primeira. Em abril, Madhusudhan e seus colegas descreveram seus resultados em um artigo em Astrophysical Journal Letters. Falando à imprensa no dia anterior, Madhusudhan disse que só havia “uma chance em 300 de isso ser um acaso”.
Rafael Luque, astrônomo na Universidade de Chicago, caracterizou Madhusudhan como especialista mundial em exoplanetas. “Tem sido um pioneiro no campo”, disse. “Tenho o maior respeito por essa equipe.”
No entanto, Luque e seus colegas decidiram dar uma olhada nos dados por si mesmos. Para a própria análise, os cientistas combinaram todas as observações de K2-18b tanto em comprimento de onda infravermelho próximo quanto médio. Em 19 de maio, eles relataram que esses dados combinados continham sinais fortes de hidrogênio, dióxido de carbono e metano, mas nenhuma evidência clara de dimetil sulfeto.
Os críticos argumentam que as novas observações em infravermelho médio eram muito mais fracas do que as em infravermelho próximo. Por si só, eles dizem, a luz infravermelha média poderia enganar os pesquisadores com ruídos fracos se passando por um sinal real de dimetil sulfeto. “Posso dizer diretamente que não há sinal estatisticamente significativo nos dados que foram publicados há um mês”, disse Jacob Bean, astrônomo na Universidade de Chicago que trabalhou com Luque no estudo.
Welbanks, ex-aluno de Madhusudhan, e seus colegas analisaram os dados de K2-18b de uma forma diferente. Se o sinal em infravermelho médio fosse genuíno, ele precisava vir do dimetil sulfeto? A equipe considerou 90 moléculas que poderiam ser produzidas de forma plausível em um planeta como K2-18b. Essas moléculas não precisavam ser produzidas pela vida, no entanto; reações químicas impulsionadas pela luz solar poderiam ser suficientes.
Os pesquisadores concluíram que o sinal em infravermelho médio poderia ter sido produzido por 59 das 90 moléculas. O candidato mais forte em sua análise não foi o dimetil sulfeto, mas sim propino, um gás que soldadores usam como combustível.
Welbanks e seus colegas não alegam que realmente haja propino em K2-18b. Só argumentam que a luz fraca da atmosfera do planeta pode criar padrões ambíguos que podem ser o resultado de um dentre vários gases. Dados tão escassos certamente não são suficientes para considerar qualquer planeta como um possível lar para a vida.
Em 15 de maio, Madhusudhan e seus colegas responderam à equipe de Welbanks com um estudo próprio. Examinaram 650 possíveis moléculas que poderiam estar na atmosfera de K2-18b; dimetil sulfeto acabou entre as do topo da lista. “Estamos exatamente onde paramos há um mês; é um bom candidato”, disse Madhusudhan.
Para Welbanks, o novo estudo de Madhusudhan simplesmente forneceu mais evidências de que dimetil sulfeto não se destaca em comparação com outras possíveis moléculas em K2-18b. É possível que o debate sobre K2-18b possa ser resolvido dentro de meses. Em 2024, Renyu Hu, astrônomo no Jet Propulsion Laboratory, e colegas fizeram mais observações em infravermelho perto do planeta. Agora, preparam os resultados. “Incluirá substancialmente mais dados do que os publicados anteriormente.” As informações são dos jornais O Estado de S. Paulo e The New York Times.