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Coluna do terceiro dia da COP30: entre reflexões, avanços e vozes amazônicas

(Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR)

Esta coluna é dedicada ao terceiro dia da COP30, direto de Belém, onde acompanho de perto os debates e acontecimentos para o Jornal O Sul.

Como de costume, escrevo após a tradicional pancada de chuva tropical da tarde — uma chuva intensa e breve que costuma cair pontualmente entre 14h e 16h, quase como um relógio climático amazônico. É nesse momento que organizo minhas impressões, confirmo informações com fontes confiáveis e me preparo para entregar conteúdo íntegro, longe do ruído e da desinformação.

É nesse momento que organizo minhas impressões, confirmo informações com fontes confiáveis e me preparo para entregar conteúdo íntegro, longe do ruído e da desinformação.

Terça, após o fechamento da coluna diária, dois episódios mereceram destaque. O primeiro foi a confusão na BlueZone, área técnica e segura da COP coordenada pela ONU. Por volta das 19h30, enquanto eu deixava o Parque da Cidade, meu celular explodiu com mensagens e vídeos sobre uma suposta “invasão”. Estava exatamente em frente à BlueZone e do lado de fora tudo parecia normal.

O episódio ocorreu no saguão de entrada, após a área dos detectores de metais, onde há mesas e balcões de credenciamento. Um grupo numeroso se aglomerou, gerando tumulto e alguns feridos. Lamentável, sim, mas não representativo do espírito da COP. Esses atos desviam o foco dos debates e não contribuem para a construção coletiva. Usar a força para chamar atenção é desordem, não diálogo.

Já o segundo episódio, este sim muito positivo e uma notícia de peso: o lançamento do Plano de Aceleração da Governança Multinível. Trata-se de uma iniciativa global que integra ações climáticas entre governos nacionais (como o federal) e locais (estaduais e municipais), além de envolver sociedade civil e setor privado. O Brasil assumiu a copresidência da coalizão internacional ao lado da Alemanha, reforçando seu protagonismo.

O plano busca sinergia entre mitigação, adaptação e transformação urbana, promovendo uma agenda climática articulada em todos os níveis. A chamada para o mutirão global convida todos os setores a contribuírem com soluções concretas, reforçando que a ação climática não é tarefa de poucos, mas responsabilidade coletiva.
No terceiro dia, decidi circular por eventos externos.

Belém está pulsando com atividades paralelas à COP, abertas à população, visitantes, cientistas e diplomatas. É uma oportunidade única para que vozes regionais — muitas vezes ignoradas — sejam ouvidas. A COP30 tem o potencial de amplificar essas pautas inovadoras e sustentáveis, que nascem no território amazônico e merecem atenção global.

Ao final da tarde, a programação foi na Ilha do Combu, um paraíso natural às margens do rio Guamá, acessível apenas por barco. Já estive lá e gravei para o canal Energia e Transformação no YouTube. Agora, o motivo da visita é especial: o lançamento do BotoH2, o primeiro barco 100% movido a energia limpa da América Latina. Desenvolvido pela Itaipu Parquetec, o BotoH2 utiliza hidrogênio verde e energia solar fotovoltaica. A embarcação, marca um avanço na engenharia sustentável.

Após a COP30, o barco será usado na coleta de resíduos sólidos em comunidades ribeirinhas, beneficiando quatro cooperativas de catadores. Como ativista da transição energética, considero este o evento mais relevante do dia.
Também estarei no Espaço BNDES, onde no domingo, dia 16, às 17h, mediarei o painel Legado de Lutzenberger, coordenado pela Fundação Gaia.

No mesmo espaço, será lançado o documentário Sociedade Regenerativa, da OKNA Produtora, com filmagens no Rincão Gaia, em Pantano Grande — um exemplo inspirador de ecologia no bioma Pampa Gaúcho.

As negociações na BlueZone seguem seu curso com a complexidade esperada de um encontro multilateral que reúne mais de 190 países, centenas de organizações e milhares de vozes da sociedade civil. A COP30 não é apenas um palco de discursos, mas um espaço de construção com compromisso e cooperação, onde cada proposta precisa atravessar camadas de consenso, diplomacia e viabilidade técnica.

Os resultados concretos — aqueles que realmente podem transformar territórios e políticas públicas — devem começar a emergir a partir da próxima semana, quando os grupos de trabalho finalizam seus relatórios e as coalizões apresentam compromissos mais sólidos. Até lá, seguimos atentos, acompanhando cada sinal de avanço e cada nuance que possa indicar o rumo da ação climática global.

Agradeço profundamente a quem tem acompanhado este trabalho, seja pela curiosidade, pelo engajamento ou pela busca por informação confiável. Meu esforço aqui é contribuir para que você, leitor, consiga filtrar o que é relevante em meio ao excesso de manchetes sensacionalistas e interpretações precipitadas.

A COP30 é um evento que exige escuta ativa, responsabilidade na comunicação e compromisso com o bem comum. Que este encontro em Belém seja lembrado não apenas pelos acordos firmados, mas pela capacidade de incluir vozes diversas, valorizar saberes locais e inspirar uma regeneração verdadeira — ambiental, social e ética.

(Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética)

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