As conclusões são fruto da análise de dados anônimos de localização divulgados pelo Google, obtidos a partir de aparelhos dos usuário. O levantamento traz números de 131 países nos meses de fevereiro e março, quando a epidemia da Covid-19, até então concentrada na China e em alguns locais da Ásia, se disseminou pelos cinco continentes.
O percentual brasileiro é abaixo de países europeus mais afetados até aqui pela doença, como Itália (87% de perda) e Espanha (88%), mas acima dos Estados Unidos (51%). Em todo o mundo, houve queda drástica também em atividades como visita a parques e restaurantes/bares/museus (reduções de 70% e 71% no Brasil, respectivamente).
O levantamento considera o movimento nos países registrado entre 16 de fevereiro e 29 de março, para comparar com a atividade entre 3 de janeiro e 6 de fevereiro. Foram avaliadas seis categorias: residências, locais de trabalho, estações de transporte público, mercados e farmácias, parques (inclui praças, praias e jardins públicos) e lazer (restaurantes, shoppings, cafés, bares, cinema, museus e teatros).
Na Itália, Espanha e França, locais mais afetados pelo vírus na Europa, há reduções de cerca de 90% no fluxo de cidadãos em estações de transporte e locais de lazer. No Brasil, houve aumento de quase 20% no volume de pessoas em suas casas na semana passada. O transporte ficou 62% mais vazio, e os shoppings e cinemas perderam 71% do público.
Segundo dados do Ipea, 65% dos brasileiros usam transporte público nas capitais. Nas maiores cidades da Europa, cerca de 60% dos cidadãos usam esse meio para ir trabalhar, de acordo com levantamento da União Europeia —17% usam carro particular. Por aqui, o fluxo de pessoas nos espaços comuns começou a cair na semana do dia 8 de março.
O esvaziamento dos locais de circulação ganhou força a partir da semana seguinte, quando governadores começaram a anunciar medidas como a suspensão de aulas e restrições ao comércio.
O movimento foi iniciado por São Paulo e Rio, estados mais atingidos pela epidemia, e foi acompanhado por outras unidades da federação nos dias seguintes, à medida que o vírus se espalhava pelo país. No domingo passado, Santa Catarina registrava 80% menos pessoas nos locais de lazer, maior redução entre os estados.
Em relação ao transporte público, Sergipe é o que teve maior queda no volume de pessoas nas estações (86%).
Já Rio e São Paulo tiveram redução de 37% na frequência a locais de trabalho.
Nos Estados Unidos, os dados mostram que o isolamento social ainda não tem a mesma abrangência da registrada entre os europeus e brasileiros. Segundo o Google, a diminuição do público em locais de lazer e no transporte girou em torno 50% —percentual semelhante ao visto na Austrália, que tem menos de 1% dos mortos dos EUA.
Os americanos têm o maior número de casos do mundo (quase 259 mil, com 6.000 mortes).
Os efeitos são maiores em estados como Nova York, que tem mais de 100 mil doentes e onde houve redução de 62% na frequência a locais de lazer. Já em Nebraska (281 casos), a queda foi de 34%.
Nos dois países com maior números de mortes até o momento, Itália e Espanha, a movimentação nos parques, praças e jardins públicos indica que a população não adotou o isolamento voluntário de forma muito abrangente. Os cidadãos só passaram a ficar em casa quando isso foi imposto pelo governo.
No início da crise, em fevereiro, houve aumento na frequência a parques, com mais pessoas aproveitando ao ar livre os dias de sol no fim do inverno. Na Itália, a queda no movimento só se torna constante a partir da primeira semana de março, quando o país já registrava milhares de casos confirmados e as mortes já chegavam às centenas.
Na Lombardia, região mais afetada pelo coronavírus, houve pico de movimento pouco antes do dia 8 de março, domingo em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher e houve marchas e manifestações em cidades de todo o mundo.
