Ícone do site Jornal O Sul

Com rusgas sobre anistia e até por rateio de carro de som, partido de Bolsonaro vive racha entre aliados de Valdemar e bolsonaristas

Rachas internos similares, porém, já puderam ser vistos em outras ocasiões. (Foto: Beto Barata/PL)

Com a maior bancada do Congresso, o PL convive com disputas internas por poder e cargos relevantes. Dentro da sigla, políticos mais alinhados ao presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, se opõem com frequência aos adeptos do chamado “bolsonarismo raiz”.

A divulgação da lista de assinaturas pela urgência do projeto que anistia os condenados pelos atos do 8 de Janeiro, por exemplo, mostrou que o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro sequer tem unanimidade sobre o tema. Quatro dos 93 deputados da legenda não subscreveram o pedido.

Alguns dos parlamentares que se abstiveram, como o deputado Antônio Carlos Rodrigues (SP), receberam autorização de Valdemar, o que gerou insatisfação entre bolsonaristas. Rachas internos similares, porém, já puderam ser vistos em outras ocasiões.

Aliados de Bolsonaro e de Valdemar costumam divergir e medir forças por projetos e cargos, como a presidência de comissões temáticas do Congresso. De acordo com lideranças do partido, a ala mais próxima ao presidente da sigla soma aproximadamente 25 parlamentares.

Um episódio recente escancarou a divisão interna, quando o bolsonarista Paulo Bilynskyj (PL-SP) foi escolhido presidente da Comissão de Segurança da Câmara. A eleição teve como pano de fundo um embate com Coronel Meira (PL-PE), que pleiteava a indicação e chegou a colher assinaturas para concorrer.

Por acordo, a vaga caberia ao PL, mas houve disputa entre os correligionários. Os deputados Eduardo Bolsonaro (SP) e Altineu Côrtes (RJ) apoiavam Biliynskyj, mas Meira se lançou à revelia de Bolsonaro e só desistiu a poucos minutos da instalação do colegiado.

Dentro do partido também há queixas quanto a uma suposta má vontade do núcleo mais próximo a Valdemar em participar dos atos organizados por bolsonaristas nos estados. Parlamentares mais distantes do ex-presidente reclamam de ter de aderir ao rateio para contratação de carros de som para discursos de Bolsonaro, além de outras despesas.

Há ainda reclamações da ala alinhada a Valdemar de que os bolsonaristas focam excessivamente na segurança pública, deixando de lado pautas econômicas que poderiam gerar desgaste no governo Lula em um momento de impopularidade.

Deputados do partido também já se opuseram em votações relevantes, quando foram levados a plenário temas caros ao bolsonarismo como a taxação de compras internacionais de até 50 dólares, apelidada de “taxa das blusinhas”, e o reajuste salarial para servidores públicos federais. Bolsonarista de primeira hora, Biliynskyj alfineta os deputados que se abstiveram em relação à anistia.

“Eu entendo que existem questões individuais de cada deputado. Alguns podem não assinar por ter algum rabo preso no Supremo”, disse.

O líder do partido na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), confirma que o aval para que Antônio Carlos Rodrigues não assinasse a urgência do texto passou por Valdemar.

“Ele é amigo do ministro Alexandre de Moraes, do STF, conversou com Valdemar e foi liberado. É uma situação pacificada na legenda. Divergências ocorrem, mas Valdemar e Bolsonaro têm ótimo convívio, não há crise pessoal. Apenas discordâncias de uma bancada plural”, minimiza.

Parlamentares ouvidos sob condição de anonimato argumentam que muitos dos deputados foram eleitos pelo quociente eleitoral bolsonarista e que, por isso, deveriam se alinhar à pauta da anistia por uma espécie de “dívida de gratidão”. Procurado, Antônio Carlos Rodrigues diz que é contrário ao projeto pela “necessidade de ajustes no texto”.

A despeito dos dilemas internos, o PL conseguiu 262 assinaturas para protocolar o requerimento de urgência para o PL da Anistia, cinco a mais do que o mínimo necessário.

Sóstenes argumenta que o projeto de lei não beneficiaria Bolsonaro. No entanto, no texto mais recente, o relator Rodrigo Valadares (União-SE) prevê anistia a condenados e réus pelos atos golpistas, além de todos que tiveram participação direta ou indireta no 8 de Janeiro e em eventos relacionados às manifestações antidemocráticas.

Nesse contexto, os políticos, como Bolsonaro, também poderiam ser beneficiados, em tese. Não é certo que a proposta seguirá esses moldes, mas o PL pleiteia que Valadares seja mantido na posição de relator. Procurado em relação às divergências internas, Valdemar não respondeu. As informações são do portal de notícias O Globo.

Sair da versão mobile